Hot Boss Joe’s POV
Não houve raios de sol para me acordar, nem sons estranhos. Abri os olhos e olhei para o visor do celular, que apontava 4:50 da manhã. Cedo demais. Ainda assim, estava inquieto, era impossível descansar novamente.
Bem aconchegada em meus braços Demi dormia tranquilamente, como um urso. Sua respiração era silenciosa e lenta; para quem via de longe, poderia jurar que estava em coma ou coisa do tipo. Seu sono era cauteloso, como eu já observara duas vezes. Duas vezes. Duas noites. Foram apenas duas noites que se passaram desde que todo esse estardalhaço começou. Como pude fazer tudo isso tão rápido, sem parar? Eu precisava de um momento para mim.
Retirei-a com cuidado do seu aconchego, e, por incrível que pareça, ela não moveu um músculo
Ria mentalmente enquanto, desajeitado, dirigia-me tonto ao banheiro para uma rápida higiene matinal. Ducha rápida, escovar de dentes, fazer a barba, colocar o tônico, perfume, desodorante. Vestir. Roupas de frio. Optar por pentear o cabelo com os dedos, olhar-me rapidamente no espelho, sentir-me charmoso e, finalmente, sair do banheiro.
Antes de sair do quarto, não consegui deixar de observá-la novamente. Sim, ela mesma, meus amigos, minha namorada. Ajeitei-a na cama, coloquei o edredom para cobrir mais o seu corpo; o jeito em que ela pegou o cobertor e cobriu até a cabeça pareceu agradecer, e eu também tive de agradecer: ela estava viva, mon dieu!
Não consegui deter um sorriso do rosto, e finalmente saí daquele quarto que, por acaso, cheirava a nós dois – e àquelas palavras proferidas na noite passada -, e à loucura, e à selvageria e paixão. Uma delícia de fragrância. Em passos lentos e silenciosos, dirigi-me à cozinha, e não encontrei nada além de água e bebida alcoólica. Optei pelo copo d’água, molhando o estômago vazio, e enfim fechei a geladeira.
Abri a dispensa, e parecia que um pote grande esperava a minha chegada. Biscoitos. Provavelmente feitos por Emily, já que Demi não era muito chegada a cozinhar e esse tipo de afazer. Sinceramente, eu não sabia muito sobre aquela que pedi em namoro. Incondicional.
Essa única palavra rebolava em meus pensamentos enquanto devorava todo o pote de biscoitos de Emily. Vamos recapitular:
Demi Lovato, designer da London Music. Não sei idade, onde mora ou quem eram seus pais. Sei que ela é exuberante, petulante e terrivelmente teimosa. Por que as coisas não poderiam ser normais nem por um instante?
Coloquei o pote vazio dentro da dispensa e baixei meus olhos ao chão, sentindo uma breve dor de cabeça. Fazia tempos que não usava o lado direito do cérebro, aquele que cuidava da humanidade e sentimentalidades. Mas então comecei a ouvir aqueles gemidos abafados, femininos e conhecidos. Não era Demi, ela estava em sono profundo agora a pouco. A única mulher residente naquela casa era... Emily.
Em passos largos e furtivos, corri para o quarto de Emi. Ela estava completamente descoberta, suando como uma louca, encolhida em posição fetal. Eu vi quando o sangue passou a escorrer da suas partes íntimas, e ela abriu a boca para deixar o doloroso ar escapar. Meu corpo e mente pareciam não ter resposta para os meus próximos atos; não tinha a mínima idéia do que estava acontecendo com minha prima, ou melhor dizendo, minha irmã. Assim eu a considerava, assim eu a tinha.
- Em... – chamei-a do mesmo jeito que chamava-a quando éramos crianças. Aproximei-me do seu corpo, esse se contraindo em espasmos e arrepios. O rosto de Emily era puro sofrimento. – Em, o que está acontecendo? Por que você está sagrando? Você estava doente e não nos falou? – nenhuma resposta – Mily, é o Joe. Mily, eu estou com você. – falei um pouco mais alto.
Ster estava do outro lado da cama, e parecia ter um sono pesado, já que não havia acordado com os gemidos de Emily ao seu lado. O que era instigante, visto que ele costumava ter sono leve; pelo menos até onde eu o conhecia, na época Pré-Sterling.
- EM! – gritei, e finalmente encontrei o azul-marinho dos seus olhos, as veias das extremidades do globo ocular saltando. – Ei, Ei, calma... Está tudo bem, linda. Calma. – Afaguei seus cabelos, ainda perdido no que estava prestes a fazer. – Ster! Acorde! Agora! Emily está... – minha voz falhava – Minha querida Emily está doente, sangrando. ACORDA, DESGRAÇADO!
Levantei-me e balancei Ster, fazendo-o despertar sonolento.
- Porra, Joe, o que é? – perguntou, apertando os olhos.
- Olhe pro seu lado. Ster, nossa Emily. Temos que ir embora, aqui não tem Hospital e a viagem até Londres são duas horas se corrermos muito. – Eu falava exasperado. Ster mal tinha aberto os olhos. Vagarosamente, virou-se para o lado e pareceu acordar quando o escarlate dos lençóis chamou sua atenção. Emily tremia, seus olhos presos em minha imagem, nenhuma palavra conseguia ser proferida pelos lábios finos.
- MEU DEUS! Emily, o que aconteceu? E...
- Ela não consegue falar. Mantenha-a acordada, eu vou chamar Demi. Vamos embora e é bom que ela venha ajudar.
- Você só pensa nessa maldita mulher. – comentou Ster, saindo dos cobertores para acolher Emily e passar a fazer-lhe um interrogatório.
- Fala isso como se você não fizesse o mesmo. – soltei-lhe um olhar desafiador, beijando a testa de Emily e saindo dali. Corri para o meu quarto e Demi já estava de pé, como se me aguardasse.
- Emily está doente e... Ela está sangrando, você sabe, por baixo e eu e Ster, nós... Hospital. Sabe. Precisamos sair logo. Hospital. Emily.
O vulto de Demi passou diversas vezes pelos meus olhos assustados, atravessando o meu olhar sem foco. Ela saiu do quarto correndo, apenas com um moletom largo cobrindo o corpo. Segui-a por puro instinto até o quarto de Mily.
Quando o olhar das duas se chocaram, eu pensei ter perdido anos de comunicação.
- Tragam toalhas, esquentem um pouco de água, sem ferver, e também tragam numa bacia. Preciso de cobertores e primeiros-socorros. Saiam do quarto. – Essas foram as primeiras palavras que Demi dirigira a mim naquela manhã. Parecendo combinados, eu e Ster nos entreolhamos, e voltamos nosso olhar para Demi, que se agachava ao lado de Emily e segurava a sua mão com um olhar de compaixão. – AGORA! – Demi nos soltou um olhar furioso e voltou a olhar para Mily.
- Não se preocupe, Mily. Eles podem ser nossos chefes, mas eu posso acusá-los de homicídio culposo se não se mexerem nesse EXATO momento. – sorriu irônica para a amiga, que pareceu querer rir até mesmo em sua situação trágica.
Para mim e Ster não restou alternativa senão dar meia-volta e fazer o que nos foi pedido. Nós estávamos estáticos pela simples razão de estarmos em choque; nunca tínhamos presenciado Emily em qualquer sofrimento físico. Ela sempre fora meio instável emocionalmente, de se preocupar demais, mas a saúde de Emily era de ferro, sempre foi! O que estava acontecendo dessa vez?
Demi’s POV
Não podia deixar escapar os olhares atemorizados os quais Emily dirigia a mim. Enquanto os chefes cuidavam dos lençóis sujos e preparavam um novo leito para uma debilitada Mily, eu me via trancada com ela no banheiro. Em meio a medicações, toalhas sujas e limpas, um abafamento proposital graças ao desespero da doente, Emily se via imersa na banheira, a água agora límpida parecia acalmá-la. Mas então ela me via, preparando as toalhas quentes em uma pequena bacia transparente; claro que eu estava concentrada no que fazia, mas isso não me retirava a personalidade observadora.
Peguei uma das toalhas e coloquei sobre sua testa, ouvindo-a arfar e franzir o cenho.
- Calma, Mily, isso vai melhorar a enxaqueca. Não vou lhe dopar com mais remédios... – disse-lhe com uma voz serena, a mais serena que pude proporcionar. – Você vai precisar de um bom descanso.
Emily suspirou e fechou os olhos daquele azul-marinho. Passei a encarar sua face, agora pálida, os traços finos do rosto oval. Jamais daria tempo de chegar a um hospital, eu bem sabia disso. Contudo, eu estava completamente exposta naquela situação.Emily uma amiga a quem poderia confidenciar os segredos (claro que havendo uma vice-versa), e pronto. Simples, sem fugas. Porcaria de mania de fugir das coisas. Merda.
- Um descanso significaria férias remuneradas? – perguntou Emily sorrindo fraco e abrindo os olhos. – Sem viagem à Nova York? – sorriu mais largamente.
- Com certeza, eu lhe daria 15 dias para se recuperar do que aconteceu. Mas...
- Mas? – a expressão confusa de Emily relatou a sua confusão extrema, a falta de redenção. Não queria se entregar. Troquei a toalha que estava em sua testa, coloquei mais sais em seu banho e sorri-lhe com compaixão.
- O que aconteceu com você não foi natural. Causado pelo estresse, excesso de preocupação, bem típico, não é, Senhorita Summers? – minha voz tornou-se mais dura, meu blefe precisando dar certo.
- Demi...
- Não minta. Não para mim. Eu estou aqui para te ajudar, você não vê? – supliquei – Desde quando?
- Eu engravidei faz 3 semanas. – ela respondeu, sem olhar nos meus olhos. – Foi um cara que eu conheci. Eu queria o bebê, mas tinha tanta coisa envolvendo... Sabe, você, Joe, Ster, meus melhores amigos, nisso que parece ser um triângulo amoroso e...
- Não foi essa a minha pergunta. Desde quando você está doente? Desde quando você... – Não tinha mais ar para aquelas palavras, engasgavam na minha garganta como uma gigante bola de pêlos engasgaria um gato. – Desde quando você desistiu do câncer?
Finalmente seus olhos se viraram para mim e, dessa vez, com real expressão de susto. Pela jugular que pulsava freneticamente, era óbvio que seus batimentos aceleraram enlouquecidos.
- Emily, eu sei o diagnóstico, preciso saber o resto. Você sabe que o câncer é fatal, o que tem na cabeça? Fale comigo!
Ouvi batidas na porta e, em seguida, a voz de Joe gritar:
- Já está tudo pronto aqui!
- Nós já vamos! – gritei de volta e voltei meu olhar para Emily. – Por favor, fale comigo.
Olhando em meus olhos, Mily suspirou fundo.
- Tudo bem. Mas será que podemos adiar essa conversa? Não quero que Joe e Ster nos ouçam; nem por acidente, nem propositalmente. – falou séria.
- Sim senhora! – respondi-lhe com ar brincalhão, afastando o ar retesado que insistia em me atacar; como um estigma. – Agora vamos sair dessa banheira antes que você vire um peixe.
Sorrindo, Emily levantou-se com alguma dificuldade. Segurei-a com cuidado, e enxuguei seu corpo, ajudando-a a sair dali. Vesti-a com uma calcinha, e coloquei uma pequena toalha, caso o sangramento voltasse por algum motivo. Destranquei a porta para pedir ao – agora útil – Ster que me trouxesse uma de suas camisas, e para Joe que trouxesse uma segunda-pele e uma calça-moletom. Talvez um comentário importuno, mas Joe, apesar das feições levemente entristecidas, estava estonteante. Ok, parei. Assim que Emily estava bem-vestida, novamente medicada, também com um Dormicid, apoiei-a em meu ombro e, finalmente, saímos daquele banheiro abafado. Coloquei-a na cama, agora de cobertores cor salmão, e deixei que se cobrisse sozinha. Abaixei-me e sussurrei em seu ouvido, cantarolando:
- Don’t worry about a thing, because every little thing is gonna be alright. – afastei-me e a vi sorrir largamente.
- Boboca. – disse-me com sua voz fraquejada pelo Dormicid. Ri baixinho, e antes que pudesse me levantar, senti as mãos de Joe me abraçando por trás.
- Coisa inteligente, você não se vestiu hoje de manhã. Está de blusa e calcinha, deu para perceber que não estamos sozinhos para você fazer isso com a minha sanidade? – sussurrou em meu ouvido. Segurei um riso. – E até a sanidade do Sterzinho ali. Coitadinho.
Olha um fato: Joe é um excelente ator. Outro fato: Eu sou uma excelente observadora. O ciúme corroera cada célula de Ster, e eu sabia que o fato de eu não ter lhe dado atenção desde o ‘ocorrido’, por assim dizer, de ontem à noite, mexeu com seu coraçãozinho de pedra e luxúria.
Emily já estava de olhos fechados, a respiração compassada num sono alfa.
Meu chefe e namorado (por que isso soa tão estranho?), carregou-me como um esposo carrega sua esposa e, em completo silêncio, retirou-me daquele cômodo.
- Desde quando você é médica? – perguntou-me quando estávamos no meio da sala, exato espaço entre um quarto e outro.
- Não sou médica. Sou Designer. – respondi-lhe olhando para o horizonte. – São primeiros socorros. Você e Ster estavam em choque, alguém tinha de fazer alguma coisa, certo?
Ele parou quando estávamos já dentro do quarto, suspirando.
- É. – respondeu monossilábico. – O que aconteceu com ela?
- Aborto espontâneo. – respondi-lhe. – Vou tomar um banho, aliás, que horas são?
Joe pôs-me no chão e olhou para o relógio de pulso.
- Cinco e meia da manhã.
- De uma segunda-feira. Emily precisa de descanso, eu diria uns 15 dias. Bem, vou tomar meu banho e então vocês se decidem como vai ser hoje. – Suspirei, meus olhos fincados no chão. Ouvi passos de afastamento de Joe. – Chefe... – chamei-o.
Ele apenas parou de andar, ainda de costas para mim. Andei em sua direção e o virei para mim, abraçando-o fortemente. Sentia seu peito quente subir e descer rapidamente contra o meu, a fúria tomando o lugar das lágrimas. Entrelacei meus dedos em seus cabelos da nuca e afastei-os apenas o suficiente para fazer nossos rostos se tocarem. O cheiro que seu rosto emanava era simplesmente delicioso, de puro deleite; cheiro de loção de pós-barba, perfume, do seu hálito de menta. Quanto à mim, a única coisa que havia colocado na boca era um pacote de balas de framboesa; o açúcar era única droga que acalmava meus nervos e minha vontade de fugir, porém nunca a longo-prazo.
- Vai ficar tudo bem. Emily vai ficar bem, nós só temos a ficar cada vez melhores. Ster vai entender, eu sei que vai. Só é preciso tempo. Tempo, meu Joe, a única coisa que nós não tivemos. – beijei rapidamente seus lábios. – Dê tempo ao tempo, não sofra de antecedência.
E então foram os seus lábios que vieram ao encontro dos meus, completamente famintos, mas pareciam estar sendo guiados por uma corrente, algo que segurava a selvageria do beijo. Minha língua transpassava cada ponto da sua boca, deliciando-se como sempre, em sua dose matinal do Chefe.
Não sei ao menos o que me fez abrir levemente os olhos, porém fora algo que me arrependi amargamente. Ster se encontrava parado na porta, encarando a mim e a Joe com uma expressão de nojo. Com a mesma velocidade em que o arrependimento veio, ele se foi. Visto que uma das minhas mãos acariciava os cabelos da nuca de Joe, soltei-a levemente e mostrei o dedo do meio para Ster, sorrindo entre meu beijo maravilhoso. Voltei a fechar os olhos e fingi que nada tinha acontecido. Nada aconteceu.
- Jennifer, Ster vai assumir hoje às 8. Emily está de licença médica. Hoje eu vou tirar minha folga remunerada, já falei com o Joe. Joe não comparecerá hoje por motivos pessoais. Vemo-nos amanhã. Xx Demi Lovato. – desliguei o telefone celular. – Pronto, acabei de mandar a mensagem para minha secretária. Eu vou ficar na casa de Emily, ela vai precisar de alguém para levá-la ao médico de verdade quando acordar.
- Eu vou com você. – ofereceu-se Ster.
Estávamos eu e Emily no carro de Ster, já que era maior e mais espaçoso para Emily deitar. Meu colo lhe servia de travesseiro. Ster dirigia concentrado e calado – até esse miserável momento -, em suas vestes de executivo e óculos aviador Ray Ban.
- Não. – suspirei. – Acho melhor não. É melhor que uma mulher a acompanhe nos exames, visto o que aconteceu. – contornei-o. Ele deu de ombros e manteve-se calado pelo resto da viagem.
Enquanto minhas mãos acariciavam os cabelos de Emily, meus pensamentos correram para a Land Rover que corria na estrada logo atrás da gente. Eu podia vê-lo pelo retrovisor. O vento arrumando os cabelos para a desordem, com o cotovelo apoiado na janela e uma das mãos entrelaçando os próprios cabelos. Sorri sem nem entender o porquê e passei a cantarolar.
But I don’t enjoy Heaven as much
As dancing cheek to cheek
Now come and dance with me
I want my arms around you
The charms above you
Will carry me through
To Heaven
As dancing cheek to cheek
Now come and dance with me
I want my arms around you
The charms above you
Will carry me through
To Heaven
A casa de Emily era realmente bem pequena. Uma pequena casa em um bom condomínio. Dois andares, os tijolos pareciam novos, era uma boa arquitetura. O interior, porém, nem tanto. Apesar de parecer uma bela casinha por fora, por dentro a casa aparentava ser habitada por um anão. Devido ao meu salto, eu comecei muito bem batendo a testa no rodapé da porta. Esbarrei em diversos móveis, enquanto Ster já se infiltrava na casa com Emily no seu colo. Sentei no sofá, procurando não me bater em mais nada, e vi Ster voltar.
- Obrigada. – disse-lhe.
- É por Emily. – respondeu num gesto grosseiro.
- Eu sei, bonitão. – pisquei de um olho só e comecei a retirar os sapatos.
- Você é muito folgada. – ele reclamou. – Está na casa de outra e já vai tirando os sapatos na sala, enquanto ela dorme.
- Você também. – Fingi estar falando com minha mão – Hand, você convidou o chefe arrogante para entrar na casa de Emily? – Fiz que não com a mão. – Ops, então é melhor ele cair fora. Imagine se Emily, aquela pessoa preocupada, acordar, e vir Ster perturbando a amiga confidente? Oh, no no... Isso pode ser muito ruim. Vai estressá-la novamente. – Encarei Ster com a face mais furiosa que pude lhe proporcionar.
Mas ele pareceu invicto às minhas provocações. Aproximou-se e encostou o rosto a centímetros do meu.
- Olha só, bonitona, você ainda vai pagar por tudo isso. – e selou rapidamente nossos lábios, saindo logo
- Vamos ver quem vai pagar o que e para quem! Aguarde-me, bonitão, sua máscara de super-herói se derrete quando está em minhas mãos! – praticamente gritei para que me ouvisse. – Otário. – sussurrei enquanto tocava meus lábios. – Otário gostoso. – Passei a língua pelos meus lábios. – Filho de uma...
Saí correndo pela casa de Emily à procura de um banheiro.
Tomei um baita susto quando a vi com o blusão cinza de Ster que pareceu premeditado para a calça-moletom também no mesmo tom de cinza. Estava em pé, lágrimas nos olhos, o cabelo bagunçado.
- Só tem banheiro no meu quarto. – disse-me com a voz arrastada. – Eu vou comer alguma coisa.
- Obrigada...
Seria inútil falar qualquer coisa. Dirigi-me ao banheiro e coloquei pasta de dente no dedo indicador, esfregando em todos os cantos da minha boca, limpando-me. Aquele maldito Ster, passando-me seu gosto – diabolicamente bom -, mas que deveria morar apenas na sua boca. Ele nem tinha o gosto de menta, nem o cheiro de pós-barba; nem aquela fragrância própria. AQUELES IDIOTAS ESTAVAM ME DEIXANDO LOUCA. Cuspi na pia e enxagüei a boca.
- Queria poder ler suas expressões e então adivinhar o que está pensando. – disse-me Emily, arrastando-se até a cama com um pote de sorvete caseiro. Virei-me para ela e a encontrei em seu estado deplorável, porem segurando duas colheres de chá e estendendo uma para mim.
Sentei-me ao seu lado da cama de casal, que pareceu fraquejar com meu peso.
- Relaxe, minha cama pode não parecer forte, mas ela é super-poderosa. Acredite em mim. – Emily sorriu maliciosa.
- Você não presta... – eu ri.
- Vamos comer, eu to com muita fome! – disse-me ela. Eu ri novamente.
- Acabou de sofrer um aborto e está assim? Meu Deus.
- Eu também sou super, queridinha. – falou com um sorriso largo no rosto, abrindo o pote de sorvete e pondo a colher com gosto.
- Eu acredito que sim. – sorri-lhe, também pegando uma colher e colocando rapidamente na boca. Quando vi, estávamos fazendo competição de quem comia mais rápido. – Congelamento de cérebro! Bandeira branca!
- Cérebro, que cérebro? – Emily me disse, pegando o pote de sorvete só para ela e continuando com as colheradas, um sorriso beirando a extremidade da sua boca avermelhada pelo frio.
- Boboca. – respondi-lhe, fazendo-a gargalhar de boca cheia. – Pois bem, Dona Emily, fique à vontade para me contar sua história. Nós temos a noite toda.
- Ui, isso soou provocativo. – ela riu novamente. Porém, dessa vez, eu estava completamente séria. Mily suspirou fundo.
- Melhor você pegar um travesseiro para a coluna. – ela me disse.
- Estou bem assim.
- Bem, tudo começou...