Hot Boss Joe’s POV on
Eu jurei ter ouvido vozes enquanto me ensaboava no chuveiro e, por isso, tratei de acelerar meu banho, enxaguando mais rapidamente o xampu do meu cabelo. Saí do Box, mal me enxugando e enrolando a toalha na minha cintura, ou um pouco (muito) abaixo da linha que denominariam ser a cintura, e abri a porta do banheiro. Lidei com um ambiente um pouco mais frio, e tive uns arrepios involuntários pelo ar gélido. Não me lembrara de ter deixado a janela aberta. Olhei para o lado da cama e vi Demi deitada de lado. Emoldurada pelo vestido vermelho. Os cabelos rebeldes deixavam-na como uma medusa – a mais bela medusa -, e sua respiração lenta e compassada atingia em cheio minha sensibilidade à sua feminilidade. Como ela poderia ser tão atraente? Eu estava me aproximando da minha – agora – namorada quando ouvi vozes sussurradas vindas da sala de estar.
Assustado, dei passos cautelosos até a porta do quarto, abrindo uma pequena fresta e ali me escorando, procurando saber quem eram os invasores da minha casa.
- Ster? Por favor, volte a falar. – dizia Emily. Mas que diabos Emily fazia aqui? E muito mais, Ster! Ele sequer avisara ou... A gente nunca avisa, nem sei por que me incomodo. Talvez seria pelo rumo em que as coisas haviam tomado. Ster e Emily estavam lado a lado, e ela tentava consolá-lo, uma das mãos em seu ombro. Meu amigo tinha a cabeça baixa e uma expressão chorosa que eu jamais vira. Ambos sentados na namoradeira vermelha, e num gesto que me pareceu uma calamidade! Ster chorava! Emily, a super poderosa, estava triste, com dor! O que estava acontecendo conosco? E para celebrar com cobertura de chocolate, eu estava apaixonado.
Para permanecer são, permiti-me abstrair pensamentos catastróficos e prestar atenção na conversa.
- Emily, você não entende... É muito mais forte que eu. Como pode ser possível que algo dessa intensidade não convenha... a esse ramo, digo, de relacionamento?
Emily continuava silenciosa, acariciando os cabelos de Ster como uma mãe coruja. Lembrava-me, em relampejos, de quando éramos crianças e Emily, como a mais velha, sempre nos trazia conforto. Ela olhava para ele com clemência. Meu coração batia tão forte contra meu peito que eu mal sabia como conseguia permanecer ali sem ser notado. A adrenalina era impossível de se segurar, minhas veias estavam gritantes; o que o ciúme não fazia com o corpo de um cidadão?
Eu não conseguia imaginar sequer a cena de Ster como meu concorrente. Não, de jeito algum. Ster era muito melhor que eu em tantos quesitos; ele era organizado, firme, inteligente. Ainda tinha aquela fama de bom namorador, ao invés da minha de lançador de rede: o que cair na rede é peixe.
- O cheiro dela, Emily, é cativante. E ela estava ali, tão simplesmente vulnerável, serena como nunca havia visto. Eu não sei como nunca pude tê-la notado antes... Demi me parece a mulher que sempre sonhei. – Ster continuou, fazendo com que meus dedos apertassem tanto na porta, a ponto de me unhas ali fincarem, tamanha pressão. Eu mal tinha unhas e elas estavam fincando na madeira!
- Calma, Ster. Você sabe que não devia ter chegado tão perto. Ouviu o que não queria.
- Aqueles cabelos de medusa – por que ele tinha de fazer a mesma comparação que eu? – jogados sobre a cama, o vestido vermelho. O cheiro de sal que o corpo dela emanava. Diga-me, Mily, como privar meu sexo disso? Eu sou homem, porra!
- Ster, pelo amor de Deus. Eu to falando grego? Acalme essa cabecinha. Acho melhor irmos embora antes que Joe saia daquele banheiro. Ou acho que teremos alguns problemas...
Eu respirei fundo. Hora de intervir ou fingir que nada havia acontecido? Novela Mexicana ou falta de adrenalina nessa estória?
- Problemas comigo? – Eu disse, entrando na sala na maior cara-dura, fingindo ter acabado de tomar banho. Emily e Ster logo voltaram seus olhares para mim, e eu os encarei amistoso. Ironias a parte, jovenzinhos...
- Oi Joe! – Emily logo disse, vindo em minha direção com os braços abertos. Abracei-a, e percebi que Ster aproveitara a deixa para enxugar as lágrimas dos olhos.
Eu ainda me pergunto, até hoje, por que Emily tinha aquele cheiro de chocolate. Ela não tinha cara de chocolate. Digo, loiríssima com aqueles olhos escuros e a pele branca como pérola; ela não tem cara de chocolate. Assim que desfiz meu abraço com Mily, Ster já estava de pé, e seu rosto transparecia sua tristeza. Ster nunca fora um bom ator, assim, como eu. Ele sempre deixa escapar.
- Então... Qual a surpresa de trazer Emily, Ster? – disse eu, num teatro amistoso. Ster olhou fundo em meus olhos, ele sabia bem que eu estava atuando; mas eu mantinha minha pose, e por que não manter? A atuação é tão perfeitamente mais conveniente do que uma briga, uma discussão. Eu chamo atenção por ser discretamente cara-de-pau. É só olhar para trás e revisar os detalhes.
- Queria que Emily... – ele hesitou – conhecesse isso aqui. - Afinal, um dia essa casa pertenceu à ela também, não é?
- Por obséquio. – eu disse, enfim apertando a sua mão, pegando-o de surpresa. Trocamos olhares devastadores. Sequer tinha forças para desviar atenções a Emily, que por acaso ainda continuava ali, parada, esperando por quaisquer reações.Emily sabia que nunca nós três ficamos daquele jeito. Principalmente quando o assunto envolvia a mim, Ster e as fêmeas (com a óbvia exclusão de Emily). Vinham em minha cabeça as imagens de mim com Demi; eu nunca fora tão feliz com uma mulher – não mais uma fêmea, mulher. Foi para ela que eu cedi os meus romantismos sem atuações, sem bancar o cafetão ou o galã de cinema, deixando-me levar para ser apenas o velho chefe, Joe Jonas.
Eu não a entregaria a Ster. Eu sabia que estava sendo egoísta, mas e se eu não fosse... poderia perdê-la para sempre, simplesmente; e essa era uma idéia que minha mente não podia suportar. Mal tive a oportunidade de tê-la, como posso perdê-la?
Os olhos de Ster pareciam ameaçadores, principalmente pelo fato daquelas pequenas veias vermelhas – saltadas pelo fato de ele estar chorando há pouco – ainda estarem aparecendo, rugindo sua raiva e desavença.
- Por que você está me olhando assim? – perguntei sem mais rodeios, revirando os olhos e sentando no sofá.
Desviando da raivinha de Ster, busquei Emily, e dei sinal para que ela se sentasse também. Vi-a engolir seco e, assustada, sentar-se numa poltrona ali perto, logo juntando as mãos e passando a massageá-las freneticamente – mal sinal -, ela estava nervosa, estressada, e a ponto de explodir.
Com muita calma, pedi com a mão para que Ster sentasse ao meu lado, no sofá vermelho-sangue.
- Diga-me, Ster. Diga-me de uma vez. Você está estranho, conte-me a verdade. Estamos no nosso lar, na casa da verdade, no nosso esconderijo. Estamos nós três aqui, os melhores amigos, como sempre... – eu disse, mas antes que continuasse, Ster interrompeu.
- Todavia temos uma intrusa. – ele disse, mantendo o olhar sobre horizonte. Segui meu olhar para o exato lugar onde estava o seu, e não foi exatamente o horizonte o que eu avistei.
Demi estava parada. Seu vestido vermelho rasgado e um pouco sujo de areia; os olhos mostrando cansaço, mas ainda assim de uma intensidade sobrenatural. Sorria sarcástica, uma das mãos descansando sobre a cintura fina.
- Uma intrusa na reunião. Desculpe-me, Ster, se te incomodo... – Ela disse chegando mais perto. Sentou-se em uma das poltronas, ao lado de Emily, e cumprimentou-a com um olhar cúmplice. – Estou abismada com sua falta de educação, Ster. Sempre pensei que o Senhor fosse educado, prendado... Claro, isso antes da sua repentina mudança de comportamento... São as drogas? Sua mulher anda te traindo? Afinal, qual é o seu problema?
Estávamos os três boquiabertos com a entrada standart de Demi. Faltou um público para aplausos na minha (humilde) opinião. Se eu não tivesse a certeza de que seria rechaçado, realmente levantaria em ovação. “Bravo, bravo!”. Porém não foi o medo de ser rechaçado que me manteve estático. O olhar que Ster levou à Demi foi insano; desejoso e ao mesmo tempo enfrentador. Eu estava entendendo tudo perfeitamente agora. Vamos então aos fatos. Ster está a fim de Demi.
Demi está arqueando uma sobrancelha para Ster. Eu namoro Demi. Emily está abismada, mas eu consigo ver mais: Ela não sabe se ri ou chora.
- Ster? Responda. – Demi insistiu, fitando-o intensamente. Seus olhos cansados lhe davam um ar cada vez mais terroso; e os cabelos cheios e bagunçados lhe confundiam com uma bruxa maléfica. O corpo esguio e sedutor esta ali, sempre reconhecível, mas numa sensualidade de enlouquecer a áurea masculina. Eu apenas estranhei os arranhões em suas coxas, ainda vermelhos, recentes. Franzi o cenho e procurei o seu olhar, mas ela ainda fitava Ster, e sua cara chata e decidida não me permitiu uma intervenção, quanto mais uma desobediência.
- Problemas? – perguntou Ster – eu não tenho.
Logo Emily, Demi e eu encaramos Ster numa arqueada conjunta de sobrancelhas desafiadoras. Ele continuou:
- Pelo menos nenhum problema que venha a interagir com sua pessoa, Demi. Eu não devo explicações a você. – ele disse num fingimento meia boca que me fez revirar os olhos e sorrir irônico.
- Faz-me rir, Ster. Você é ridículo. Eu o considerava meu herói, e agora você fica aí fazendo papel de paspalho. Quantas faces você tem? E quando vai deixar de ser dois ao mesmo tempo? – ela perguntou rápido, cuspindo as palavras. Eu apenas ria, claro que disfarçando, colocando uma das mãos sobre a boca; isso porque Emily soltava olhares repreendendo-me.
Suspirei fundo colocando a mão que tampava meus sorrisos sobre o queixo. Eu esperava um barraco mais longo... Mais divertido. Uma pena.
Antes que pensem que sou masoquista, eu tenho a certeza absoluta de que Demi não me trocaria por Ster. E disso eu tive certeza quando ela sentou na cadeira e olhou daquele jeito para ele.
Uma das coisas mais importantes que já aprendi em minha breve vida foi interpretar olhares. Então, considero o fim da concorrência. Pelo menos da minha parte.
Cogitar um ‘se’ nessa história me daria apenas dores de cabeça. Vamos deixar os ‘se’ para os catastróficos, como Emily, por exemplo.
Olhem para ela. Ela se contorce na cadeira, ela se incomoda, preocupa-se demais com todos nós. Eu nem ao menos sei por quê. Pergunto-me se Emily não tem vida pra cuidar...
- Acho melhor vocês pararem por aqui. – disse a própria, Emily Summers, levantando da cadeira e puxando Ster. – Vamos voltar. – disse ela, segurando Ster pelo braço, dirigindo-se a ele.
- Estão malucos? São onze horas da noite! – exclamou Demi – Vocês dormem aqui e vão embora ao amanhecer. A casa também é de vocês, certo?
Tive de decidir entre olhar para Demi se levantando naquele vestido rasgado ou contar o número de vezes que Emily se recusava a dormir com Ster. Eu preferi olhar para Demi. Aproximei-me para tocá-la, sentir sua pele geralmente quente... assustei-me sentindo-a agora bastante fria.
- Está gelada – eu disse, bem perto dela, dando-lhe um beijo na testa.
- Meu calor ta ocupado. – respondeu – fritando os neurônios que me restam – disse rindo.
Beijamo-nos levemente devido aos convidados... espera, convidados? Quem convidou?
Imediatamente tentei aprofundar o beijo em seus lábios macios, mas ela fincou as unhas em meu rosto, recusando-se.
- Eu conheço o seu jogo, chefe. – deu uma piscadela – Só não esqueça de que você está só de toalha...
Saiu dando risada e se dirigindo a Ster e Emily. Balancei a cabeça negativamente, imaginando o que seria de nós até que os raios de sol dessem o ar da graça...
Demi’s POV on
- Emily, eu posso falar com você? – foi apenas o que eu disse quando consegui me aproximar dos dois. Emily me encarou assustada, enfim balançando a cabeça positivamente. Não me dei ao luxo de deixar minha visão escorrer para Ster. Puxei Mily pelo braço, levando-a para a cozinha.
- Acho que você precisa de um copo d’água. – eu disse, procurando o copo na estante enquanto ela se debruçava no balcão.
- Preciso mesmo. – falou bufando – Agora eu pergunto, qual é o problema de vocês três? Por que diabos Joe estava rindo? E por que você está parecendo uma bruxa malvada e sensual? E por que Ster ta parecendo um doido bipolar? E DESDE QUANDO AS COISAS MUDARAM E NINGUÉM ME FALOU?
Dei risada enquanto colocava água no copo. Virei-me para encará-la com um sorriso maroto.
- A super-girl perdeu a consciência? – ri mais uma vez, entregando-lhe o copo – Então quer dizer que Joe estava rindo? Coincidência... – pensei alto.
- Coincidência? – Emily perguntou entre um gole e outro.
-Sim. Eu estava aqui imaginando... Acho que voltamos aos nossos personagens. Reflita.
Emily me olhou com uma baita cara de interrogação. Eu dei de ombros e sorri para ela, que ainda estava assustada e preocupada.
Tirei o copo de vidro da sua mão e coloquei sobre o balcão. Enlacei meus braços pelo seu corpo fino e pequeno, abraçando-a com força.
- Emily, pare de se preocupar com isso. Logo as coisas vão resolver-se por si mesmas. Não há nada de tão complexo. Você está vendo algo complexo? – perguntei, ouvindo-a murmurar negativamente e espalmar as mãos em minhas costas – Então pare de se preocupar. Relaxe. E, olha, eu tenho uma boa notícia para você. – disse me afastando.
- Qual? – ela perguntou, já com um leve sorriso de esperança nos lábios.
- Eu e o velho Joe estamos namorando, não é épico? Eu ainda estou estranhando, mas... – fui incapaz de completar a frase porque Emily pulou no meu pescoço, entortando minha pobre coluna.
- Ah, que lindo! Conte-me tudo, quero saber os detalhes!
Fui forçada a sentar à mesa de jantar e contar ‘timtim por timtim’ para a Senhorita Summers. Pode parecer entediante, mas eu me senti estranhamente maravilhada com aquilo. Havia uma cumplicidade entre nós duas, eu me sentia bem contando aquilo pra ela; eu me sentia bem tendo alguém ao meu lado, se importando comigo...
Todavia algo me incomodava periodicamente naqueles olhos azuis escuros de Emily; não apenas pelo fato de eles serem conforto e ameaça ao mesmo tempo, Emily tinha seus olhos transmitindo o vislumbre de espanto. Ela estava falando alguma coisa que eu não entendia muito bem, isso porque me ocupava decifrando seus olhos, então eu a interrompi:
- Emily, fale o que você realmente quer me falar. Uma heroína não deve mentir. – eu disse sorrindo o mais sincera que eu podia. Por um breve momento senti que estávamos sendo observadas, mas acabei por dar de ombros.
- Não tem... – baixou a cabeça.
- Minta olhando em meus olhos. É bem mais difícil. – falei para ela. Dessa vez minha voz estava mendiga. Eu não estava sendo dura. Mesmo em palavras que poderiam ser julgadas como duras, eu as tornei límpidas e amigáveis, principalmente quando toquei a mão de Emily.
Nunca pensei que podia me dar bem com alguém assim. É diferente como numa relação com um homem. Se você está numa relação com um homem e está tudo muito bem, sem juras de amor com as três palavras tóxicas, culpamos o sexo. Algo como, sexo todo dia ou sexo muito bom. Homens preferem não largar mulheres assim, acreditem. E essa é a diferença. Por isso, sempre considerei a relação entre mulheres muito mais difícil, sem falar que estamos sempre competindo, quer queira, quer não. Mas eu e Emily? Nada. Sem competições.
Apenas cumplicidade, amizade. Aquelas coisas bonitas e clichês que todo mundo tem vontade de encontrar e ter, mas acham que são tão impossíveis quanto encontrar o Papai Noel.
Naquele breve momento eu podia sentir estrelas nos meus olhos, um borbulhar no meu estômago. Dentre os milhares de monstros que eu guardava comigo, Emily acabou de matar um deles.
Ela sorriu largo com seus lábios finos, mostrando os dentes pequenos e enfileirados perfeitamente, olhando em meus olhos.
- Eu sabia que no fundo você era humana. – ela riu, e eu a acompanhei. Não consegui sentir Ster ou Joe, apenas ouvia nossas gargalhadas escandalosas ecoando pela casinha aquecida.
- Você sabe o que está acontecendo, não sabe, Emily? – perguntei.
- Eu sei... – suspirou – E o que você vai fazer?
- É uma boa pergunta. – minha vez de suspirar, deitando minha cabeça na mesa.
- Deixe que o tempo te leve... – ela disse, e ia levar as mãos ás minhas pernas, para cobri-las com o pano vermelho. Logo avistou os arranhões. – O q-q-que foi isso? – gaguejou assustada.
- O resultado do que você viu naquele quarto. De quando você ficou com aquela cara de gárgula.
- Eu não entendo... – ela disse, mexendo a cabeça negativamente.
Sentei-me de forma correta, ajeitando minha coluna no encosto. Ajeitei os cabelos para que parassem de cair no meu rosto e respirei fundo.
- Ele veio ao meu quarto. Eu já estava acordada, mas com preguiça de abrir os olhos, como sempre. Joe me ocupou durante o dia... – eu sorri um pouco - então eu o senti. Ster... é tão estranho o efeito deleem mim. Sempre foi assim. Eu sempre tive uma vontade extraterrestre de puxar ele pelos cabelos e – baixei o tom de voz, quase sussurrando – você sabe...
- Sei sim... – ela concordou sorrindo – ele é realmente muito bonitão.
- Não. Não é apenas a beleza. Tem algo a mais. Como um empuxo, que me prende. Na verdade, é mais animal. Mais como se ele usasse perfume de feromônio; e agora, de repente, nós dois somos animais estúpidos e loucos. Ele me prende, me segura, me trava.
- Não entendo... Mas por que então você namora o Joe?
- Joe é a gravidade, o equilíbrio. Ele me solta, me liberta. Eu preciso do Joe todo dia. E tenho a plena certeza de que uma noite com o Joe me deixaria levinha. Só que já começou, e eu só descobri isso agora. Ela passou um tempo me encarando, talvez me chamando de louca.
- Você filosofa demais. – ela riu. – Mas eu entendi. E os arranhões?
- Ah, sim! Os arranhões! Pois bem, Ster entrou no quarto, e eu automaticamente senti sua presença. Permaneci daquele jeito, fingindo estar adormecida, esperando sua reação diante de mim. Aliás, Joe estava no banheiro, ele não podia se exceder em quaisquer reações. Ele veio para perto, muito perto. A única coisa que eu pude tocar foram minhas próprias coxas, e ele ainda pôs as mãos sobre as minhas e...
#FLASHBACK#
- Você sabe que poderá vir a mim quando quiser e bem entender. Eu não me importo com esse outro que te tem o tempo todo. Eu preciso de você. – sussurrou a voz máscula do chefe.
Subiu e desceu as mãos pelo corpo esguio, delineando, memorizando os traços com o tato. Uma loucura, sim. Era instinto animal.
- Onde está a sua coleira? – Ela sussurrou de volta, os olhos ainda fechados e um sorriso sacana nos lábios secos. – I don’t belong to you. – disse séria.
#
- Você disse isso a ele?- perguntou Emily assustada.
- Claro que disse! Eu não trairia o Joe. Mesmo que aquele velho tarado me traia – eu ri – Jamais o trairia. Muito mais com o Ster, e com a desculpa de instinto animal. Eu sou uma humana, você mesma me assegurou disso.
- É...
- É. – disse-lhe – É, é e é. Sem reticências. – Levantei-me.
- Ta, e os arranhões? – ela perguntou, franzindo a testa.
- Quando seu corpo não responde os estímulos nervosos, você força outros estímulos... Eu só consegui me arranhar para não avançar como um animal no cio.
- Isso é muito loucura para a minha cabecinha... – ela reclamou.
Eu ri e a ajudei a se levantar, estendendo minha mão.
- Tome um banho, tenho um pijama para te emprestar. Vou conseguir toalha também. E bote um sorriso nesse rosto, minha jovem! Você vai dividir a cama com o chefão gostosão Ster, e que ele não me ouça dizendo isso! – Rimos.
Providenciei o necessário para Emily e então voltei para o quarto que Joe considerava como ‘nosso quarto’. Abri a torneira para que a água enchesse a bela banheira ali presente. Fiquei um tempo olhando-me no espelho, a porta ainda estava aberta, qualquer um podia entrar; deixei que a aleatoriedade do destino fizesse seu trabalho, estava cansada de planejar, pensar, decepcionar, culpar-me.
Prendi meus fios rebeldes com um elástico e fiquei a observar minha face. Como poderia minha própria face trazer tormentos? Cada traço me lembrava terror. Minha última esperança era de que com a maior aproximação com os chefes da revista eu pudesse, ao menos, adiar a viagem... Seria tão mais fácil. Com a banheira cheia, não me dei ao trabalho de tirar o vestido, ele parecia já se fundir ao meu corpo mesmo... Preguiça.
A água estava adoravelmente morna. Deitei-me e joguei a cabeça para trás, respirando fundo numa tentativa frouxa de relaxar e fechando os olhos.Senti uma presença que imediatamente interrompeu meus pensamentos de viajarem em saltos mortais por sobre a maionese (ficou até chique falando desse jeito).
- Ster? Por favor, volte a falar. – dizia Emily. Mas que diabos Emily fazia aqui? E muito mais, Ster! Ele sequer avisara ou... A gente nunca avisa, nem sei por que me incomodo. Talvez seria pelo rumo em que as coisas haviam tomado. Ster e Emily estavam lado a lado, e ela tentava consolá-lo, uma das mãos em seu ombro. Meu amigo tinha a cabeça baixa e uma expressão chorosa que eu jamais vira. Ambos sentados na namoradeira vermelha, e num gesto que me pareceu uma calamidade! Ster chorava! Emily, a super poderosa, estava triste, com dor! O que estava acontecendo conosco? E para celebrar com cobertura de chocolate, eu estava apaixonado.
Para permanecer são, permiti-me abstrair pensamentos catastróficos e prestar atenção na conversa.
- Emily, você não entende... É muito mais forte que eu. Como pode ser possível que algo dessa intensidade não convenha... a esse ramo, digo, de relacionamento?
Emily continuava silenciosa, acariciando os cabelos de Ster como uma mãe coruja. Lembrava-me, em relampejos, de quando éramos crianças e Emily, como a mais velha, sempre nos trazia conforto. Ela olhava para ele com clemência. Meu coração batia tão forte contra meu peito que eu mal sabia como conseguia permanecer ali sem ser notado. A adrenalina era impossível de se segurar, minhas veias estavam gritantes; o que o ciúme não fazia com o corpo de um cidadão?
Eu não conseguia imaginar sequer a cena de Ster como meu concorrente. Não, de jeito algum. Ster era muito melhor que eu em tantos quesitos; ele era organizado, firme, inteligente. Ainda tinha aquela fama de bom namorador, ao invés da minha de lançador de rede: o que cair na rede é peixe.
- O cheiro dela, Emily, é cativante. E ela estava ali, tão simplesmente vulnerável, serena como nunca havia visto. Eu não sei como nunca pude tê-la notado antes... Demi me parece a mulher que sempre sonhei. – Ster continuou, fazendo com que meus dedos apertassem tanto na porta, a ponto de me unhas ali fincarem, tamanha pressão. Eu mal tinha unhas e elas estavam fincando na madeira!
- Calma, Ster. Você sabe que não devia ter chegado tão perto. Ouviu o que não queria.
- Aqueles cabelos de medusa – por que ele tinha de fazer a mesma comparação que eu? – jogados sobre a cama, o vestido vermelho. O cheiro de sal que o corpo dela emanava. Diga-me, Mily, como privar meu sexo disso? Eu sou homem, porra!
- Ster, pelo amor de Deus. Eu to falando grego? Acalme essa cabecinha. Acho melhor irmos embora antes que Joe saia daquele banheiro. Ou acho que teremos alguns problemas...
Eu respirei fundo. Hora de intervir ou fingir que nada havia acontecido? Novela Mexicana ou falta de adrenalina nessa estória?
- Problemas comigo? – Eu disse, entrando na sala na maior cara-dura, fingindo ter acabado de tomar banho. Emily e Ster logo voltaram seus olhares para mim, e eu os encarei amistoso. Ironias a parte, jovenzinhos...
- Oi Joe! – Emily logo disse, vindo em minha direção com os braços abertos. Abracei-a, e percebi que Ster aproveitara a deixa para enxugar as lágrimas dos olhos.
Eu ainda me pergunto, até hoje, por que Emily tinha aquele cheiro de chocolate. Ela não tinha cara de chocolate. Digo, loiríssima com aqueles olhos escuros e a pele branca como pérola; ela não tem cara de chocolate. Assim que desfiz meu abraço com Mily, Ster já estava de pé, e seu rosto transparecia sua tristeza. Ster nunca fora um bom ator, assim, como eu. Ele sempre deixa escapar.
- Então... Qual a surpresa de trazer Emily, Ster? – disse eu, num teatro amistoso. Ster olhou fundo em meus olhos, ele sabia bem que eu estava atuando; mas eu mantinha minha pose, e por que não manter? A atuação é tão perfeitamente mais conveniente do que uma briga, uma discussão. Eu chamo atenção por ser discretamente cara-de-pau. É só olhar para trás e revisar os detalhes.
- Queria que Emily... – ele hesitou – conhecesse isso aqui. - Afinal, um dia essa casa pertenceu à ela também, não é?
- Por obséquio. – eu disse, enfim apertando a sua mão, pegando-o de surpresa. Trocamos olhares devastadores. Sequer tinha forças para desviar atenções a Emily, que por acaso ainda continuava ali, parada, esperando por quaisquer reações.Emily sabia que nunca nós três ficamos daquele jeito. Principalmente quando o assunto envolvia a mim, Ster e as fêmeas (com a óbvia exclusão de Emily). Vinham em minha cabeça as imagens de mim com Demi; eu nunca fora tão feliz com uma mulher – não mais uma fêmea, mulher. Foi para ela que eu cedi os meus romantismos sem atuações, sem bancar o cafetão ou o galã de cinema, deixando-me levar para ser apenas o velho chefe, Joe Jonas.
Eu não a entregaria a Ster. Eu sabia que estava sendo egoísta, mas e se eu não fosse... poderia perdê-la para sempre, simplesmente; e essa era uma idéia que minha mente não podia suportar. Mal tive a oportunidade de tê-la, como posso perdê-la?
Os olhos de Ster pareciam ameaçadores, principalmente pelo fato daquelas pequenas veias vermelhas – saltadas pelo fato de ele estar chorando há pouco – ainda estarem aparecendo, rugindo sua raiva e desavença.
- Por que você está me olhando assim? – perguntei sem mais rodeios, revirando os olhos e sentando no sofá.
Desviando da raivinha de Ster, busquei Emily, e dei sinal para que ela se sentasse também. Vi-a engolir seco e, assustada, sentar-se numa poltrona ali perto, logo juntando as mãos e passando a massageá-las freneticamente – mal sinal -, ela estava nervosa, estressada, e a ponto de explodir.
Com muita calma, pedi com a mão para que Ster sentasse ao meu lado, no sofá vermelho-sangue.
- Diga-me, Ster. Diga-me de uma vez. Você está estranho, conte-me a verdade. Estamos no nosso lar, na casa da verdade, no nosso esconderijo. Estamos nós três aqui, os melhores amigos, como sempre... – eu disse, mas antes que continuasse, Ster interrompeu.
- Todavia temos uma intrusa. – ele disse, mantendo o olhar sobre horizonte. Segui meu olhar para o exato lugar onde estava o seu, e não foi exatamente o horizonte o que eu avistei.
Demi estava parada. Seu vestido vermelho rasgado e um pouco sujo de areia; os olhos mostrando cansaço, mas ainda assim de uma intensidade sobrenatural. Sorria sarcástica, uma das mãos descansando sobre a cintura fina.
- Uma intrusa na reunião. Desculpe-me, Ster, se te incomodo... – Ela disse chegando mais perto. Sentou-se em uma das poltronas, ao lado de Emily, e cumprimentou-a com um olhar cúmplice. – Estou abismada com sua falta de educação, Ster. Sempre pensei que o Senhor fosse educado, prendado... Claro, isso antes da sua repentina mudança de comportamento... São as drogas? Sua mulher anda te traindo? Afinal, qual é o seu problema?
Estávamos os três boquiabertos com a entrada standart de Demi. Faltou um público para aplausos na minha (humilde) opinião. Se eu não tivesse a certeza de que seria rechaçado, realmente levantaria em ovação. “Bravo, bravo!”. Porém não foi o medo de ser rechaçado que me manteve estático. O olhar que Ster levou à Demi foi insano; desejoso e ao mesmo tempo enfrentador. Eu estava entendendo tudo perfeitamente agora. Vamos então aos fatos. Ster está a fim de Demi.
Demi está arqueando uma sobrancelha para Ster. Eu namoro Demi. Emily está abismada, mas eu consigo ver mais: Ela não sabe se ri ou chora.
- Ster? Responda. – Demi insistiu, fitando-o intensamente. Seus olhos cansados lhe davam um ar cada vez mais terroso; e os cabelos cheios e bagunçados lhe confundiam com uma bruxa maléfica. O corpo esguio e sedutor esta ali, sempre reconhecível, mas numa sensualidade de enlouquecer a áurea masculina. Eu apenas estranhei os arranhões em suas coxas, ainda vermelhos, recentes. Franzi o cenho e procurei o seu olhar, mas ela ainda fitava Ster, e sua cara chata e decidida não me permitiu uma intervenção, quanto mais uma desobediência.
- Problemas? – perguntou Ster – eu não tenho.
Logo Emily, Demi e eu encaramos Ster numa arqueada conjunta de sobrancelhas desafiadoras. Ele continuou:
- Pelo menos nenhum problema que venha a interagir com sua pessoa, Demi. Eu não devo explicações a você. – ele disse num fingimento meia boca que me fez revirar os olhos e sorrir irônico.
- Faz-me rir, Ster. Você é ridículo. Eu o considerava meu herói, e agora você fica aí fazendo papel de paspalho. Quantas faces você tem? E quando vai deixar de ser dois ao mesmo tempo? – ela perguntou rápido, cuspindo as palavras. Eu apenas ria, claro que disfarçando, colocando uma das mãos sobre a boca; isso porque Emily soltava olhares repreendendo-me.
Suspirei fundo colocando a mão que tampava meus sorrisos sobre o queixo. Eu esperava um barraco mais longo... Mais divertido. Uma pena.
Antes que pensem que sou masoquista, eu tenho a certeza absoluta de que Demi não me trocaria por Ster. E disso eu tive certeza quando ela sentou na cadeira e olhou daquele jeito para ele.
Uma das coisas mais importantes que já aprendi em minha breve vida foi interpretar olhares. Então, considero o fim da concorrência. Pelo menos da minha parte.
Cogitar um ‘se’ nessa história me daria apenas dores de cabeça. Vamos deixar os ‘se’ para os catastróficos, como Emily, por exemplo.
Olhem para ela. Ela se contorce na cadeira, ela se incomoda, preocupa-se demais com todos nós. Eu nem ao menos sei por quê. Pergunto-me se Emily não tem vida pra cuidar...
- Acho melhor vocês pararem por aqui. – disse a própria, Emily Summers, levantando da cadeira e puxando Ster. – Vamos voltar. – disse ela, segurando Ster pelo braço, dirigindo-se a ele.
- Estão malucos? São onze horas da noite! – exclamou Demi – Vocês dormem aqui e vão embora ao amanhecer. A casa também é de vocês, certo?
Tive de decidir entre olhar para Demi se levantando naquele vestido rasgado ou contar o número de vezes que Emily se recusava a dormir com Ster. Eu preferi olhar para Demi. Aproximei-me para tocá-la, sentir sua pele geralmente quente... assustei-me sentindo-a agora bastante fria.
- Está gelada – eu disse, bem perto dela, dando-lhe um beijo na testa.
- Meu calor ta ocupado. – respondeu – fritando os neurônios que me restam – disse rindo.
Beijamo-nos levemente devido aos convidados... espera, convidados? Quem convidou?
Imediatamente tentei aprofundar o beijo em seus lábios macios, mas ela fincou as unhas em meu rosto, recusando-se.
- Eu conheço o seu jogo, chefe. – deu uma piscadela – Só não esqueça de que você está só de toalha...
Saiu dando risada e se dirigindo a Ster e Emily. Balancei a cabeça negativamente, imaginando o que seria de nós até que os raios de sol dessem o ar da graça...
Demi’s POV on
- Emily, eu posso falar com você? – foi apenas o que eu disse quando consegui me aproximar dos dois. Emily me encarou assustada, enfim balançando a cabeça positivamente. Não me dei ao luxo de deixar minha visão escorrer para Ster. Puxei Mily pelo braço, levando-a para a cozinha.
- Acho que você precisa de um copo d’água. – eu disse, procurando o copo na estante enquanto ela se debruçava no balcão.
- Preciso mesmo. – falou bufando – Agora eu pergunto, qual é o problema de vocês três? Por que diabos Joe estava rindo? E por que você está parecendo uma bruxa malvada e sensual? E por que Ster ta parecendo um doido bipolar? E DESDE QUANDO AS COISAS MUDARAM E NINGUÉM ME FALOU?
Dei risada enquanto colocava água no copo. Virei-me para encará-la com um sorriso maroto.
- A super-girl perdeu a consciência? – ri mais uma vez, entregando-lhe o copo – Então quer dizer que Joe estava rindo? Coincidência... – pensei alto.
- Coincidência? – Emily perguntou entre um gole e outro.
-Sim. Eu estava aqui imaginando... Acho que voltamos aos nossos personagens. Reflita.
Emily me olhou com uma baita cara de interrogação. Eu dei de ombros e sorri para ela, que ainda estava assustada e preocupada.
Tirei o copo de vidro da sua mão e coloquei sobre o balcão. Enlacei meus braços pelo seu corpo fino e pequeno, abraçando-a com força.
- Emily, pare de se preocupar com isso. Logo as coisas vão resolver-se por si mesmas. Não há nada de tão complexo. Você está vendo algo complexo? – perguntei, ouvindo-a murmurar negativamente e espalmar as mãos em minhas costas – Então pare de se preocupar. Relaxe. E, olha, eu tenho uma boa notícia para você. – disse me afastando.
- Qual? – ela perguntou, já com um leve sorriso de esperança nos lábios.
- Eu e o velho Joe estamos namorando, não é épico? Eu ainda estou estranhando, mas... – fui incapaz de completar a frase porque Emily pulou no meu pescoço, entortando minha pobre coluna.
- Ah, que lindo! Conte-me tudo, quero saber os detalhes!
Fui forçada a sentar à mesa de jantar e contar ‘timtim por timtim’ para a Senhorita Summers. Pode parecer entediante, mas eu me senti estranhamente maravilhada com aquilo. Havia uma cumplicidade entre nós duas, eu me sentia bem contando aquilo pra ela; eu me sentia bem tendo alguém ao meu lado, se importando comigo...
Todavia algo me incomodava periodicamente naqueles olhos azuis escuros de Emily; não apenas pelo fato de eles serem conforto e ameaça ao mesmo tempo, Emily tinha seus olhos transmitindo o vislumbre de espanto. Ela estava falando alguma coisa que eu não entendia muito bem, isso porque me ocupava decifrando seus olhos, então eu a interrompi:
- Emily, fale o que você realmente quer me falar. Uma heroína não deve mentir. – eu disse sorrindo o mais sincera que eu podia. Por um breve momento senti que estávamos sendo observadas, mas acabei por dar de ombros.
- Não tem... – baixou a cabeça.
- Minta olhando em meus olhos. É bem mais difícil. – falei para ela. Dessa vez minha voz estava mendiga. Eu não estava sendo dura. Mesmo em palavras que poderiam ser julgadas como duras, eu as tornei límpidas e amigáveis, principalmente quando toquei a mão de Emily.
Nunca pensei que podia me dar bem com alguém assim. É diferente como numa relação com um homem. Se você está numa relação com um homem e está tudo muito bem, sem juras de amor com as três palavras tóxicas, culpamos o sexo. Algo como, sexo todo dia ou sexo muito bom. Homens preferem não largar mulheres assim, acreditem. E essa é a diferença. Por isso, sempre considerei a relação entre mulheres muito mais difícil, sem falar que estamos sempre competindo, quer queira, quer não. Mas eu e Emily? Nada. Sem competições.
Apenas cumplicidade, amizade. Aquelas coisas bonitas e clichês que todo mundo tem vontade de encontrar e ter, mas acham que são tão impossíveis quanto encontrar o Papai Noel.
Naquele breve momento eu podia sentir estrelas nos meus olhos, um borbulhar no meu estômago. Dentre os milhares de monstros que eu guardava comigo, Emily acabou de matar um deles.
Ela sorriu largo com seus lábios finos, mostrando os dentes pequenos e enfileirados perfeitamente, olhando em meus olhos.
- Eu sabia que no fundo você era humana. – ela riu, e eu a acompanhei. Não consegui sentir Ster ou Joe, apenas ouvia nossas gargalhadas escandalosas ecoando pela casinha aquecida.
- Você sabe o que está acontecendo, não sabe, Emily? – perguntei.
- Eu sei... – suspirou – E o que você vai fazer?
- É uma boa pergunta. – minha vez de suspirar, deitando minha cabeça na mesa.
- Deixe que o tempo te leve... – ela disse, e ia levar as mãos ás minhas pernas, para cobri-las com o pano vermelho. Logo avistou os arranhões. – O q-q-que foi isso? – gaguejou assustada.
- O resultado do que você viu naquele quarto. De quando você ficou com aquela cara de gárgula.
- Eu não entendo... – ela disse, mexendo a cabeça negativamente.
Sentei-me de forma correta, ajeitando minha coluna no encosto. Ajeitei os cabelos para que parassem de cair no meu rosto e respirei fundo.
- Ele veio ao meu quarto. Eu já estava acordada, mas com preguiça de abrir os olhos, como sempre. Joe me ocupou durante o dia... – eu sorri um pouco - então eu o senti. Ster... é tão estranho o efeito dele
- Sei sim... – ela concordou sorrindo – ele é realmente muito bonitão.
- Não. Não é apenas a beleza. Tem algo a mais. Como um empuxo, que me prende. Na verdade, é mais animal. Mais como se ele usasse perfume de feromônio; e agora, de repente, nós dois somos animais estúpidos e loucos. Ele me prende, me segura, me trava.
- Não entendo... Mas por que então você namora o Joe?
- Joe é a gravidade, o equilíbrio. Ele me solta, me liberta. Eu preciso do Joe todo dia. E tenho a plena certeza de que uma noite com o Joe me deixaria levinha. Só que já começou, e eu só descobri isso agora. Ela passou um tempo me encarando, talvez me chamando de louca.
- Você filosofa demais. – ela riu. – Mas eu entendi. E os arranhões?
- Ah, sim! Os arranhões! Pois bem, Ster entrou no quarto, e eu automaticamente senti sua presença. Permaneci daquele jeito, fingindo estar adormecida, esperando sua reação diante de mim. Aliás, Joe estava no banheiro, ele não podia se exceder em quaisquer reações. Ele veio para perto, muito perto. A única coisa que eu pude tocar foram minhas próprias coxas, e ele ainda pôs as mãos sobre as minhas e...
#FLASHBACK#
- Você sabe que poderá vir a mim quando quiser e bem entender. Eu não me importo com esse outro que te tem o tempo todo. Eu preciso de você. – sussurrou a voz máscula do chefe.
Subiu e desceu as mãos pelo corpo esguio, delineando, memorizando os traços com o tato. Uma loucura, sim. Era instinto animal.
- Onde está a sua coleira? – Ela sussurrou de volta, os olhos ainda fechados e um sorriso sacana nos lábios secos. – I don’t belong to you. – disse séria.
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- Você disse isso a ele?- perguntou Emily assustada.
- Claro que disse! Eu não trairia o Joe. Mesmo que aquele velho tarado me traia – eu ri – Jamais o trairia. Muito mais com o Ster, e com a desculpa de instinto animal. Eu sou uma humana, você mesma me assegurou disso.
- É...
- É. – disse-lhe – É, é e é. Sem reticências. – Levantei-me.
- Ta, e os arranhões? – ela perguntou, franzindo a testa.
- Quando seu corpo não responde os estímulos nervosos, você força outros estímulos... Eu só consegui me arranhar para não avançar como um animal no cio.
- Isso é muito loucura para a minha cabecinha... – ela reclamou.
Eu ri e a ajudei a se levantar, estendendo minha mão.
- Tome um banho, tenho um pijama para te emprestar. Vou conseguir toalha também. E bote um sorriso nesse rosto, minha jovem! Você vai dividir a cama com o chefão gostosão Ster, e que ele não me ouça dizendo isso! – Rimos.
Providenciei o necessário para Emily e então voltei para o quarto que Joe considerava como ‘nosso quarto’. Abri a torneira para que a água enchesse a bela banheira ali presente. Fiquei um tempo olhando-me no espelho, a porta ainda estava aberta, qualquer um podia entrar; deixei que a aleatoriedade do destino fizesse seu trabalho, estava cansada de planejar, pensar, decepcionar, culpar-me.
Prendi meus fios rebeldes com um elástico e fiquei a observar minha face. Como poderia minha própria face trazer tormentos? Cada traço me lembrava terror. Minha última esperança era de que com a maior aproximação com os chefes da revista eu pudesse, ao menos, adiar a viagem... Seria tão mais fácil. Com a banheira cheia, não me dei ao trabalho de tirar o vestido, ele parecia já se fundir ao meu corpo mesmo... Preguiça.
A água estava adoravelmente morna. Deitei-me e joguei a cabeça para trás, respirando fundo numa tentativa frouxa de relaxar e fechando os olhos.Senti uma presença que imediatamente interrompeu meus pensamentos de viajarem em saltos mortais por sobre a maionese (ficou até chique falando desse jeito).
- Demi? – a voz chamou.
- Feche a porta, tranque-a e venha aqui. – eu disse rapidamente. Podíamos transformar essa noite numa história de terror.
Ahhh espero q ñ seja o ster tipo ela ñ devia trair o joe, tipo eu gosto muito deles juntos e ñ é justo com ele já q ele ta tão apaixonado e q seria capaz de trair ela. A demi pensa em fazer isso com ele ñ vale! Beijos flor to ansiosa para o próximo :)
ResponderExcluirOOOOOOOOOOOOOOOMG, É O STER NÉ? OMG OMG OMG!
ResponderExcluirSera que é o Ster ??? O.O #curiosa posta logo bjs
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