- Emily... - Eu tentava calmamente acordar Emily do sofá da minha casa, balançando o seu corpo com a pouca força que meu braço tinha matinalmente. Só não diria que ela era uma pobre coitada naquela posição porque eu havia simplesmente dormido no tapete da sala, destroçando minha coluna. Aos poucos minha amiga acordava e abria os olhos, ainda sem mexer nenhum músculo do corpo.
- Trabalhar. - disse apenas e me afastei do sofá, alongando os membros. A sala estava uma completa bagunça, de caixas de pizza a papéis referentes ao trabalho, além de pipoca, refrigerante e uma montanha de DVDs que havia desabado. Não foi previsto que passássemos o sábado e o domingo juntas e, muito menos, que Emily dormisse na minha casa. Mas simplesmente havia muito para se conversar, muito para se discutir e o tempo passava muito rápido, tanto que mal percebemos quando, durante o último filme, fechamos os olhos e dormimos. Estávamos exaustas. Principalmente porque no domingo tivemos de providenciar a impressão da revista sozinhas, visto que os dois chefes folgados estavam afogados numa ressaca impossível desde que souberam das más notícias. Quando finalmente Emily moveu um músculo para se levantar, segurei-a pelos braços e a ajudei a ficar de pé.
- Estou com dor de cabeça. - disse com as mãos sobre a testa.
- Vou te arranjar um analgésico. Pode ir tomando um banho, tem toalha extra no banheiro.
- Obrigada, Demi. - ela disse, dando passos tortos pelo corredor até o banheiro, onde se trancou. Eu olhava para a bagunça da sala e pedia com todas as minhas forças que a empregada resolvesse vir e fazer a arrumação daquilo sem reclamar. Passei as mãos pelo cabelo embaraçado e segurei-o em um coque até achar algo para prender. Assim feito, fui ao quarto, separar roupas para mim e para Emily. Sabia que seria difícil encontrar roupas minhas que dessem nela, afinal, Emily era muito magrinha e mais baixa que eu. Escolhi então uma roupa que não parecesse grande nela, que não ficasse tocando no chão, e separei em cima da cama. Também separei a minha roupa e sapatos para ambas; alguns acessórios, dois sobretudos não muito quentes e disponibilizei maquiagem básica caso Emily precisasse. Eu não sei ela, mas eu precisava estar bem hoje. Tinha planos para a noite.
- Estou com dor de cabeça. - disse com as mãos sobre a testa.
- Vou te arranjar um analgésico. Pode ir tomando um banho, tem toalha extra no banheiro.
- Obrigada, Demi. - ela disse, dando passos tortos pelo corredor até o banheiro, onde se trancou. Eu olhava para a bagunça da sala e pedia com todas as minhas forças que a empregada resolvesse vir e fazer a arrumação daquilo sem reclamar. Passei as mãos pelo cabelo embaraçado e segurei-o em um coque até achar algo para prender. Assim feito, fui ao quarto, separar roupas para mim e para Emily. Sabia que seria difícil encontrar roupas minhas que dessem nela, afinal, Emily era muito magrinha e mais baixa que eu. Escolhi então uma roupa que não parecesse grande nela, que não ficasse tocando no chão, e separei em cima da cama. Também separei a minha roupa e sapatos para ambas; alguns acessórios, dois sobretudos não muito quentes e disponibilizei maquiagem básica caso Emily precisasse. Eu não sei ela, mas eu precisava estar bem hoje. Tinha planos para a noite.
- Você tem carro? - Emily me perguntou. Estava simplesmente esplêndida com a roupa escolhida, os cabelos haviam sido presos pela primeira vez desde que a conheci. Eu respondi à sua pergunta negativamente. Eu ainda não tinha condições de ter carro, já bastasse o apartamento que havia me custado anos de trabalho, um carro na capital inglesa me custaria mais um financiamento que eu temia não ser capaz de arcar. Além do mais, eu nunca me importei em pegar metrô para chegar até o prédio da revista.
- Demi Lovato, chefe do departamento de design não tem carro? - Ela perguntou incrédula. - Não consigo acreditar. Pensei que tínhamos saído de táxi ontem porque você estava com preguiça de dirigir ou sei lá.
- Nossa... Não sei por que essa incredulidade. Por acaso a senhorita tem carro?
- Não... mas aí é porque meu salário não deixa. Eu ainda nem consegui sair da casa de minha mãe! Nós rimos, até sermos interrompidas pelo meu estômago, que roncou como um urso que acabou de sair do período de hibernação.
- Vamos ter que comer fora. Aqui não tem comida. - eu disse, pegando minha bolsa e abrindo a porta de casa.
- É o jeito, né? - Mily disse - Você é uma ótima anfitriã, mas péssima dona de casa. - Falou e eu ri baixinho com a conclusão dela.
Pegamos o metrô até o prédio em que trabalhávamos e comemos algo na Starbucks da esquina, sem se importar com o horário; ainda era cedo. Apenas nesse momento eu percebi que meu relógio biológico havia funcionado pela primeira vezem tempos. Havia acordado sozinha e na hora certa. Mesmo agora tendo a certeza de que null não encheria meu saco por ter chegado minimamente atrasada. Eu perguntava-me qual seria a reação dele diante do que acontecera entre nós dois; ele sabia quem ele havia ficado naquele dia, não imaginava que eu soubesse que o Coringa era ele, apenas isso. Será que mesmo assim ele me trataria daquele mesmo modo grosseiro e superior? Eu apenas sanaria minhas dúvidas caso entrasse no escritório da revista pós-festa-fracasso, em mais um dia de trabalho.
Adentrei o escritório rindo baixinho com Emily, ela havia contado algo engraçado sobre a festa, falava do príncipe épico que estava com ela quando eu a vi pela primeira vez.
- Qual é, Demi? Eu tenho vergonha, sabia? Ao contrário de certas pessoas...
- Eu sei que você tem vergonha, Emily. Eu lembro o modo em que você dançava até o chão CHEIA de vergonha - Ironizei entre risos. Os funcionários nos encaravam com caras sonolentas e assustadas diante da nossa disposição. Ou talvez fosse porque eu resolvi descobrir as pernas descaradamente. Who cares?
Fui direto ao meu escritório e o encontrei limpo e arrumado. Despedi-me de Emily com um aceno, vendo-a entrar no escritório do Joe com um sorriso de canto de boca para mim; fiz sinal para que se calasse com o dedo e entrei em meu cafofo. Liguei o computador, joguei minha bolsa sobre a mesa e larguei o próprio peso sobre a cadeira giratória. Assim que o computador iniciou, abri todos os programas de que ia precisa, além do Outlook, para checar meu e-mail. Havia 40 mensagens não lidas, e eu passava meus olhos sobre elas sem a menor vontade de lê-las, apenas vendo se talvez houvesse algo interessante: Um lembrete de Tiff, sobre a nossa reunião na quarta-feira para discutir sobre o logo. Melody, uma das editoras, com uma matéria sobre bandas novas e o novo conceito do rock, me pedindo para ler, dar opinião e ainda por cima criar o design da matéria de forma inovadora. Nem me pediu tanta coisa.
Fui interrompida de minha leitura quando um Ster emburrado abriu a minha porta sem nem ao menos bater educadamente - coisa que até o Joe fazia - e jogar um bolo de papéis e desenhos sobre meu colo. Apressei-me em segurar aquela pilha de coisas para que não caísse e o encarei logo depois, o cenho franzido. - Uau. Acumulou muita coisa, né?
- Não. Esse é o seu trabalho do dia. - Eu olhei novamente para a pilha, abismada. - Quero tudo pronto ao final do dia. Se você passar do expediente, não é problema meu, também não irei pagar extra pra você fazer sua obrigação, Lovato. - O que significa isso, Ster? - me apresseiem perguntar. Por que ele estava tão rude assim, de repente? Não me chamava de Lovato desde... muito tempo. Será que havia brigado com Tiff? Compreensiva, coloquei a pilha de papéis sobre o móvel e voltei a olhá-lo. Levantei-me da cadeira e toquei seu ombro. - Está tudo bem com você, querido?
Suas feições foram indecifráveis. Ele retirou minha mão de seu ombro e me encarou com os olhos rachados.
- Você é a minha empregada. Coloque-se em seu lugar. Agora faça o que eu mandei. - disse ríspido. O brilho dos seus olhos nunca me fora tão repelente. Mesmo assim, continuei em sua frente, observando seu rosto - que mesmo com raiva, permanecia lindo - e esperando que ele me dissesse que aquilo tudo era brincadeira. Mas ele não fez nada mais do que virar as costas largas e sair do meu escritório num vulto que fez os meus cabelos arrepiarem-se. Não iria chorar como uma garota, ou ficar triste com aquilo. Se ele quisesse ser rude, que fosse. Do mesmo jeito ele se agarrava com a namorada na minha frente e nem por isso eu conseguia ser tão ignorante com ele. Se Ster realmente me conhecesse, saberia que com aquela reação dele eu ia passar a tratá-lo exatamente como tratava o Joe: curta e grossa. A raiva, obviamente, não sumiu com lógica mais-do-que-óbvia presente em meus pensamentos teimosos. Sentei na cadeira sem conseguir segurar minhas pernas direito e cruzei os braços num ato infantil, mas perfeitamente combinável com a situação recente. Abri os vários projetos que me foram postos e suspirei fundo: Teria um bom trabalho pela frente.
Quando saí do escritório a fim de tomar café, os funcionários me encaravam com uma cara estranha, mas que eu não fiz questão de decifrar. Sabia que tinha acabado de sair da Starbucks, mas apenas mais uma dosezinha com certeza não me fará mal. Eu sabia que aquilo estava se tornando um vício, mas me parecia completamente inevitável reativar os ânimos, principalmente depois do trabalho extra que me foi enviado sem mais nem menos. Café era o meu álcool. Enchi o copo descartável com café preto e forte, pouco açúcar. Entornei como se fosse água.
- Devagar aí, Demi. Andou sem comer de novo? - ouvi a voz de Joe tão perto de mim que preferi não me virar para não acabar causando um desastre.
- Oi, Joe. - disse, fingindo ser a eu de sempre. Claro que eu tinha coisas em mente, aquilo fazia parte do plano... - E não, hoje eu comi bem. Só preciso de um pouco mais de energia.
- Sei. Como foi de festa? - virei-me num impulso para encará-lo. Assisti seus olhos adentrando cada célula óptica, informando aos meus neurônios de que existia algo perigoso por vir, um sinal para que eu me afastasse. Aqueles olhos estavam pura malícia. Eu bem queria saber o que ele pretendia fazer naquele momento, mas me recusei a deixar que ele controlasse algo. EU queria controlar, queria abordá-lo e deixá-lo confuso. Era uma necessidade de que as coisas funcionassem assim, um desejo do meu interior.
- Foi boa.
- Só boa?
- A sua foi maravilhosa?
- Não respondeu a minha pergunta.
- Você também não. - falei rispidamente porém com um sorriso nos lábios. - Até mais tarde, Jonas. Tenho trabalho a fazer...
- Onde está o resto da saia? - ele perguntou, olhando descaradamente para as pernas descobertas. Não me importei, era essa a intenção mesmo.
- Comprei em liquidação, vem pela metade. - Disse rindo - Você gostou?
Não dei espaço para que ele respondesse, apenas assisti seu rosto espantado com a minha petulância temporária. Apressei meus passos para o escritório e lá me tranquei, esquecendo de tudo e de todos, e fazendo apenas o que me era obrigação: Trabalho.
- Demi Lovato, chefe do departamento de design não tem carro? - Ela perguntou incrédula. - Não consigo acreditar. Pensei que tínhamos saído de táxi ontem porque você estava com preguiça de dirigir ou sei lá.
- Nossa... Não sei por que essa incredulidade. Por acaso a senhorita tem carro?
- Não... mas aí é porque meu salário não deixa. Eu ainda nem consegui sair da casa de minha mãe! Nós rimos, até sermos interrompidas pelo meu estômago, que roncou como um urso que acabou de sair do período de hibernação.
- Vamos ter que comer fora. Aqui não tem comida. - eu disse, pegando minha bolsa e abrindo a porta de casa.
- É o jeito, né? - Mily disse - Você é uma ótima anfitriã, mas péssima dona de casa. - Falou e eu ri baixinho com a conclusão dela.
Pegamos o metrô até o prédio em que trabalhávamos e comemos algo na Starbucks da esquina, sem se importar com o horário; ainda era cedo. Apenas nesse momento eu percebi que meu relógio biológico havia funcionado pela primeira vez
Adentrei o escritório rindo baixinho com Emily, ela havia contado algo engraçado sobre a festa, falava do príncipe épico que estava com ela quando eu a vi pela primeira vez.
- Qual é, Demi? Eu tenho vergonha, sabia? Ao contrário de certas pessoas...
- Eu sei que você tem vergonha, Emily. Eu lembro o modo em que você dançava até o chão CHEIA de vergonha - Ironizei entre risos. Os funcionários nos encaravam com caras sonolentas e assustadas diante da nossa disposição. Ou talvez fosse porque eu resolvi descobrir as pernas descaradamente. Who cares?
Fui direto ao meu escritório e o encontrei limpo e arrumado. Despedi-me de Emily com um aceno, vendo-a entrar no escritório do Joe com um sorriso de canto de boca para mim; fiz sinal para que se calasse com o dedo e entrei em meu cafofo. Liguei o computador, joguei minha bolsa sobre a mesa e larguei o próprio peso sobre a cadeira giratória. Assim que o computador iniciou, abri todos os programas de que ia precisa, além do Outlook, para checar meu e-mail. Havia 40 mensagens não lidas, e eu passava meus olhos sobre elas sem a menor vontade de lê-las, apenas vendo se talvez houvesse algo interessante: Um lembrete de Tiff, sobre a nossa reunião na quarta-feira para discutir sobre o logo. Melody, uma das editoras, com uma matéria sobre bandas novas e o novo conceito do rock, me pedindo para ler, dar opinião e ainda por cima criar o design da matéria de forma inovadora. Nem me pediu tanta coisa.
Fui interrompida de minha leitura quando um Ster emburrado abriu a minha porta sem nem ao menos bater educadamente - coisa que até o Joe fazia - e jogar um bolo de papéis e desenhos sobre meu colo. Apressei-me em segurar aquela pilha de coisas para que não caísse e o encarei logo depois, o cenho franzido. - Uau. Acumulou muita coisa, né?
- Não. Esse é o seu trabalho do dia. - Eu olhei novamente para a pilha, abismada. - Quero tudo pronto ao final do dia. Se você passar do expediente, não é problema meu, também não irei pagar extra pra você fazer sua obrigação, Lovato. - O que significa isso, Ster? - me apressei
Suas feições foram indecifráveis. Ele retirou minha mão de seu ombro e me encarou com os olhos rachados.
- Você é a minha empregada. Coloque-se em seu lugar. Agora faça o que eu mandei. - disse ríspido. O brilho dos seus olhos nunca me fora tão repelente. Mesmo assim, continuei em sua frente, observando seu rosto - que mesmo com raiva, permanecia lindo - e esperando que ele me dissesse que aquilo tudo era brincadeira. Mas ele não fez nada mais do que virar as costas largas e sair do meu escritório num vulto que fez os meus cabelos arrepiarem-se. Não iria chorar como uma garota, ou ficar triste com aquilo. Se ele quisesse ser rude, que fosse. Do mesmo jeito ele se agarrava com a namorada na minha frente e nem por isso eu conseguia ser tão ignorante com ele. Se Ster realmente me conhecesse, saberia que com aquela reação dele eu ia passar a tratá-lo exatamente como tratava o Joe: curta e grossa. A raiva, obviamente, não sumiu com lógica mais-do-que-óbvia presente em meus pensamentos teimosos. Sentei na cadeira sem conseguir segurar minhas pernas direito e cruzei os braços num ato infantil, mas perfeitamente combinável com a situação recente. Abri os vários projetos que me foram postos e suspirei fundo: Teria um bom trabalho pela frente.
Quando saí do escritório a fim de tomar café, os funcionários me encaravam com uma cara estranha, mas que eu não fiz questão de decifrar. Sabia que tinha acabado de sair da Starbucks, mas apenas mais uma dosezinha com certeza não me fará mal. Eu sabia que aquilo estava se tornando um vício, mas me parecia completamente inevitável reativar os ânimos, principalmente depois do trabalho extra que me foi enviado sem mais nem menos. Café era o meu álcool. Enchi o copo descartável com café preto e forte, pouco açúcar. Entornei como se fosse água.
- Devagar aí, Demi. Andou sem comer de novo? - ouvi a voz de Joe tão perto de mim que preferi não me virar para não acabar causando um desastre.
- Oi, Joe. - disse, fingindo ser a eu de sempre. Claro que eu tinha coisas em mente, aquilo fazia parte do plano... - E não, hoje eu comi bem. Só preciso de um pouco mais de energia.
- Sei. Como foi de festa? - virei-me num impulso para encará-lo. Assisti seus olhos adentrando cada célula óptica, informando aos meus neurônios de que existia algo perigoso por vir, um sinal para que eu me afastasse. Aqueles olhos estavam pura malícia. Eu bem queria saber o que ele pretendia fazer naquele momento, mas me recusei a deixar que ele controlasse algo. EU queria controlar, queria abordá-lo e deixá-lo confuso. Era uma necessidade de que as coisas funcionassem assim, um desejo do meu interior.
- Foi boa.
- Só boa?
- A sua foi maravilhosa?
- Não respondeu a minha pergunta.
- Você também não. - falei rispidamente porém com um sorriso nos lábios. - Até mais tarde, Jonas. Tenho trabalho a fazer...
- Onde está o resto da saia? - ele perguntou, olhando descaradamente para as pernas descobertas. Não me importei, era essa a intenção mesmo.
- Comprei em liquidação, vem pela metade. - Disse rindo - Você gostou?
Não dei espaço para que ele respondesse, apenas assisti seu rosto espantado com a minha petulância temporária. Apressei meus passos para o escritório e lá me tranquei, esquecendo de tudo e de todos, e fazendo apenas o que me era obrigação: Trabalho.
Era a última matéria a ser passada pelo Photoshop. Eu tinha apenas que ajeitar as fotos e adicionar o layout que, graças a deus, já estava pronto. Feito isso eu poderia colocar meu plano em prática. Isso , obviamente, se Joe ainda estivesse na Redação. Ajeitei rapidamente o que precisava ser feito, não passando de 15 minutos. Fechei a última pasta que me foi entregue por Ster na manhã e suspirei de alívio.
Levantei-me e andei em passos discretos até a porta, abrindo uma pequena fresta e observando a Redação completamente vazia; luzes apagadas e silêncio instalado - se não fosse pela climatização e pelo som da minha respiração um pouco ofegante. Virei meus olhos para a diretoria, mas não havia qualquer luz acesa em nenhum dos escritórios; melhor dizendo, Joe não estava lá. Minha primeira reação foi amaldiçoar a porta, o dia, a caneta que estava no chão e eu tropecei, a formiga que fez cócegas em minha perna e o computador por simplesmente existir. Mas logo retirei todas essas maldições e as joguei em Ster. Que merda ele estava fazendo com aquela arrogância que sequer combinava com ele? E me entupindo de trabalho, como uma escrava remunerada? Eu não ganhava o suficiente para trabalhar 24h mas, se ao menos ele fosse menos estúpido, quem sabe eu não reclamaria do dinheiro.
Fui atirando minhas coisas à bolsa sem me importar se ia caber ou não. Eu era a última naquele inferno de redação e também não me importei quando comecei a resmungar baixo ao fazer minhas coisas. Desliguei o computador puxando o cabo de energia e desliguei a luz quase quebrando o inferno do interruptor. Odiava planejar coisas, e quando planejo, não dá certo. Coisa boa ser impulsiva, péssima apenas para o interruptor, para o computador, para o chão que eu esmagava, enfim.
Quando me lembrei que ainda tinha de pegar o metrô tive vontade de me jogar do último andar do prédio. Suspirei fundo e peguei a bolsa lotada de coisas - também com trabalho de casa -, peguei um sobretudo que guardava num armário reservado aos funcionários devido ao frio que poderia encontrar lá fora, minha pele estava demasiada descoberta, saindo porta afora da redação, trancando portas e desligando lâmpadas remanescentes.
A cidade de Londres sempre fora uma coisa impressionante à noite. Já havia se passado da meia-noite quando atravessei a rua para pegar o metrô. A beleza da cidade simplesmente sucumbia aos rostos sérios que, principalmente àquela hora, se mantinham quietos e calados. O metrô, por algum milagre, não demorou a chegar, ou talvez aquilo fosse resultado da primeira vez que cheguei na hora certa para pegá-lo. Havia poucas pessoas sentadas naquelas cadeiras. Eu não gostava de ter que ir embora àquela hora de metrô, me parecia extremamente perigoso por mais que eu soubesse me defender muito bem devido ao meu passado. Assim que minha linha de pensamento parou no passado, eu rapidamente desviei, e me pus a pensar no presente, já que o passado apenas me traria coisas desagradáveis: em todo e qualquer sentido. O que me deixava mais louca era que o meu presente se resumia a dois nomes: Joe e Ster. Não que eu não me importasse com o trabalho em si, dos desenhos e tudo mais, mas aquilo era algo que eu fazia tão naturalmente quanto comer e dormir. Eles dois não. Com eles era diferente.
Sentei em uma das cadeiras perto de uma barra de metal, era meio desastrada quando o metrô estava em movimento, então permiti assegurar que não levaria uma queda ou saíria me batendo pelos vagões. Deixei minha bolsa descansar no meu colo e encostei a cabeça na parede. Por puro vício, puxei os fones do ipod de dentro da bolsa, liguei-o e apertei play esperando que uma lista qualquer tocasse. Não me importei diretamente com que música estava tocando, mas consegui deixar tocar por simplesmente me agradar.
My hopes of being stolen
Might just ring true
Depends who you prefer
Depende de quem eu prefiro. Quem eu prefiro?
Eu prefiro quem me complete. O problema é que eu acho que os dois conseguem fazer o mesmo... Apesar de que Joe tem pontos na frente. Eu gostei da performance dele, ah, se gostei. A música entrava nos meus ouvidos com mais potência, e eu passei a pensar com um plano de fundo musical. No entanto, não conseguia me distrair. Havia um instinto aguçado e desconhecido que queria me deixar com os olhos bem abertos. Talvez fosse a insegurança pelo horário tardio em que eu estava voltando para casa. Senti meu celular tremer na bolsa e então me concertei na cadeira para ver a tela: 1 mensagem recebida.
"Girl, aonde hells você se meteu? Ninguém atende em sua casa, estou preocupada! Quero saber o que aconteceu... do seu plano.
xx Emily"
Suspirei fundo. Queria responder-lhe que o louco varrido do Ster era quem havia me feito tanta desgraça ao mesmo tempo, destruindo meu plano e arruinando a minha noite.
"Plan Failed. Trabalho demais, e ainda estou levando coisa pra casa. Emily me salve.
xxx Demi"
Mensagem enviada. A próxima estação já era a que eu desceria, então joguei minhas coisas na mochila e escondi os fones de ouvido por debaixo da roupa. Senti o telefone vibrar mais umas duas vezes no caminho andando até meu apartamento, mas preferi ignorar, apenas desejava dormir, descansar.
Os dias seguintes na revista foram piores do que aquela segunda-feira. Eu não conseguia coragem para pedir socorro na sala de Joe ou reclamar com Ster por estar jogando tudo em mim, descontando de algo que eu não havia feito. Aliás, o que mesmo levou-o a tomar tais atitudes ainda se formara com mistério, e não foi apenas pela falta de tempo que eu não cheguei a dar uma de Sherlok Holmes, mas porque quando a minha mente de repente se tornava desocupada, não era em Ster que eu estava pensando.
Na quarta-feira, como combinado, resolvi o problema com Tiff. Não - eu não briguei com ela. Apenas tive que ajustar seu logo e ajudá-la a fazer uma seleção de imagens para compor sua matéria. Aliás, por acaso, Tiff andou sendo promovida. Se antes ela tinha uma folha e meia para sua matéria, agora ela tinha três completas; exatamente o dobro do anterior. O engraçado é que foi Ster quem a promoveu, o que é meio suspeito já que eles são namoradinhos. Quanto a mim, acabei por ganhar um peso a mais no departamento, já que por decisão dos chefes, alguns web designers e editores da minha seção foram demitidos, visto o nosso problema financeiro pós-fracasso-de-festa. Andei pensando diversas vezes em idéias para reassumir a posição gloriosa da Music London, mas de nada adiantou. Talvez isso fosse problema decorrente da minha ocupação tremenda em outros trabalhos de prioridade maior, trabalhos esses vindos sempre das mãos de null.
- Preciso do conteúdo desses envelopes impressos até o horário do almoço. - Disse Ster naquele dia de sexta-feira. Estava decidida a, desta vez, comentar com ele sobre meu 'overbook' de trabalho árduo, cansativo, e que estava ocupando todo o meu tempo, livre ou não. Então coloquei os envelopes sobre a escrivaninha, e virei a cadeira giratória para que pudesse falar com ele diretamente. Estava vestido tão impecavelmente que cheguei a perder um pouco meu fôlego quando o encarei; uma calça social e smoking negros, a camisa era de cetim ou seda - eu não sabia diferenciar devido à distância - e estava colocada para dentro da calça apenas pela metade, enfeitada com uma gravata vermelho-sangue - esta com certeza de seda - que brilhava como se fosse veludo. Seus cabelos estavam penteados para trás, molhados como se tivesse acabado de tomar banho e penteado para trás.
- Senhor Knight - sim, agora ele me obrigava a chamá-lo de senhor, dizendo que eu era sua empregada e não sua melhor amiga. Não que eu fosse ligar pra isso, algo muito maior me dizia que aquilo era apenas algo como uma máscara, e que aquele tratamento rudimentar e ignorante fazia parte do teatro em que Ster se submetia. O motivo, este sim, completamente desconhecido.
- Sim, Lovato? - Perguntou arqueando uma sobrancelha de forma desafiadora, e seriamente sexy. Tentei inspirar o máximo de ar possível para proferir as palavras corretas, mas algo estranho aconteceu. Eu não reclamei com ele. Não consegui.
- Por que você mudou tão repentinamente comigo? O que eu fiz pra merecer isso? - Perguntei instintivamente. Ster me observou com suas sobrancelhas agora quase juntando-se no meio da testa, numa expressão de confusão, talvez.
- Você trabalha pra mim. Trabalho para trabalhadores. Se não consegue dar conta... - Não admiti que ele fosse manter aquela postura ridícula.
- Eu não estou reclamando, Ster. Estou perguntando o porquê dessa mudança repentina! Essa semana você me encheu o saco exatamente como o Joe faria. Trocaram os papéis, então?
A pele de marfim do meu chefe ficou mais branca ainda, pálidaem demasiado. Qualquer resquício de sangue que pudesse estar presente em suas bochechas havia simplesmente sumido. Esperei uma resposta admirando até mesmo a sua cara de assustado, e feliz por ele ter finalmente tomado impacto com algo que eu dissesse. - Eu vi você com o Coringa na festa.
- E eu vi você com sua namorada na festa. O que eu ainda não vi é o real problema com isso. - E finalmente, a discussão estava aberta. Os funcionários que estava perto da minha sala logo estavam jogados no vidro que separava a minha sala do resto da redação, e eu pude observar isso pelas pequenas frestas entre as persianas acinzentadas. Meu tom de voz já começava a se alterar, assim como o dele.
- Qual é, Demi, como é que você fica com um total estranho? Aposto como você sequer sabe o nome dele. - Ster disse de uma vez, indignado. Aquela era a primeira vez que ele falava comigo, se direcionado a mim, e não à designer da revista. Mas eu tinha rancor, e mesmo com a sua figura divina em minha frente, fui capaz de rebater.
- Se eu fosse você não me importaria com a vida pessoal da designer da revista.
- Eu sou seu amigo também.
- Há uma semana você não me trata como amiga. - elevei suavemente meu tom de voz, mas que, devido à voz aguda - presente da minha feminilidade - acabou por parecer que eu aumentei muito mais do que um oitavo na minha freqüência. O silêncio estava nos separando de chegar a um acordo com palavras, então nossos olhos trocaram palavras, gestos, sentimentos; tudo aquilo que apenas os olhos são capazes de informar. Eu estava com raiva, e ele me parecia levemente arrependido. Foi apenas impressão. Seus olhos tomaram aquela pose de chefe, subindo ao pedestal, enquanto eu permanecia como uma simples empregada. Eu odeio relações de negócios. Odeio.
- Tenho muito trabalho a fazer. - Desculpei-me e levantei da cadeira, passando por seu lado e abrindo a porta da saída. - Melhor você ir embora. - pedi.
Nunca pensei que ia pedir a um Deus Grego que se afastasse de mim, mas eu tinha entendido o recado. Ele sentiu ciúmes. O problema é que ele tem namorada, e eu não tinha nada com ele que se aplicasse a uma relação conjugal ou amorosa. Eu não devia nada a ele. E por mais que gostasse dele, não iria admitir ser pisada daquela maneira e muito menos iria admitir que ele viesse a me dizer que estava com ciúmes e me manipulasse como sua amante. Eu tinha Joe. Eu queria Joe. Eu estava feliz por tê-lo.
Ster me olhou realmente assustado com minha reação. Não deixei transparecer mais nada em minhas feições, apenas queria que ele saísse dali. Eu me recusava a enlouquecer por causa dele. Virou-se em silêncio, dando as costas para mim.
- O conteúdo dos envelopes, meio-dia. - Repetiu e andou em seus passos arrastados de volta á sua sala, fazendo o pequeno motim ao redor da minha sala rapidamente voltasse aos seus postos. Senti olhares sobre mim, mas não tinha paciência sequer para me importar com aquilo. Sentei em minha cadeira e abri os envelopes que me foram dados com a perfeita intenção de exterminá-los o mais cedo possível e hoje era o dia do meu plano dar certo.
Levantei-me e andei em passos discretos até a porta, abrindo uma pequena fresta e observando a Redação completamente vazia; luzes apagadas e silêncio instalado - se não fosse pela climatização e pelo som da minha respiração um pouco ofegante. Virei meus olhos para a diretoria, mas não havia qualquer luz acesa em nenhum dos escritórios; melhor dizendo, Joe não estava lá. Minha primeira reação foi amaldiçoar a porta, o dia, a caneta que estava no chão e eu tropecei, a formiga que fez cócegas em minha perna e o computador por simplesmente existir. Mas logo retirei todas essas maldições e as joguei em Ster. Que merda ele estava fazendo com aquela arrogância que sequer combinava com ele? E me entupindo de trabalho, como uma escrava remunerada? Eu não ganhava o suficiente para trabalhar 24h mas, se ao menos ele fosse menos estúpido, quem sabe eu não reclamaria do dinheiro.
Fui atirando minhas coisas à bolsa sem me importar se ia caber ou não. Eu era a última naquele inferno de redação e também não me importei quando comecei a resmungar baixo ao fazer minhas coisas. Desliguei o computador puxando o cabo de energia e desliguei a luz quase quebrando o inferno do interruptor. Odiava planejar coisas, e quando planejo, não dá certo. Coisa boa ser impulsiva, péssima apenas para o interruptor, para o computador, para o chão que eu esmagava, enfim.
Quando me lembrei que ainda tinha de pegar o metrô tive vontade de me jogar do último andar do prédio. Suspirei fundo e peguei a bolsa lotada de coisas - também com trabalho de casa -, peguei um sobretudo que guardava num armário reservado aos funcionários devido ao frio que poderia encontrar lá fora, minha pele estava demasiada descoberta, saindo porta afora da redação, trancando portas e desligando lâmpadas remanescentes.
A cidade de Londres sempre fora uma coisa impressionante à noite. Já havia se passado da meia-noite quando atravessei a rua para pegar o metrô. A beleza da cidade simplesmente sucumbia aos rostos sérios que, principalmente àquela hora, se mantinham quietos e calados. O metrô, por algum milagre, não demorou a chegar, ou talvez aquilo fosse resultado da primeira vez que cheguei na hora certa para pegá-lo. Havia poucas pessoas sentadas naquelas cadeiras. Eu não gostava de ter que ir embora àquela hora de metrô, me parecia extremamente perigoso por mais que eu soubesse me defender muito bem devido ao meu passado. Assim que minha linha de pensamento parou no passado, eu rapidamente desviei, e me pus a pensar no presente, já que o passado apenas me traria coisas desagradáveis: em todo e qualquer sentido. O que me deixava mais louca era que o meu presente se resumia a dois nomes: Joe e Ster. Não que eu não me importasse com o trabalho em si, dos desenhos e tudo mais, mas aquilo era algo que eu fazia tão naturalmente quanto comer e dormir. Eles dois não. Com eles era diferente.
Sentei em uma das cadeiras perto de uma barra de metal, era meio desastrada quando o metrô estava em movimento, então permiti assegurar que não levaria uma queda ou saíria me batendo pelos vagões. Deixei minha bolsa descansar no meu colo e encostei a cabeça na parede. Por puro vício, puxei os fones do ipod de dentro da bolsa, liguei-o e apertei play esperando que uma lista qualquer tocasse. Não me importei diretamente com que música estava tocando, mas consegui deixar tocar por simplesmente me agradar.
My hopes of being stolen
Might just ring true
Depends who you prefer
Depende de quem eu prefiro. Quem eu prefiro?
Eu prefiro quem me complete. O problema é que eu acho que os dois conseguem fazer o mesmo... Apesar de que Joe tem pontos na frente. Eu gostei da performance dele, ah, se gostei. A música entrava nos meus ouvidos com mais potência, e eu passei a pensar com um plano de fundo musical. No entanto, não conseguia me distrair. Havia um instinto aguçado e desconhecido que queria me deixar com os olhos bem abertos. Talvez fosse a insegurança pelo horário tardio em que eu estava voltando para casa. Senti meu celular tremer na bolsa e então me concertei na cadeira para ver a tela: 1 mensagem recebida.
"Girl, aonde hells você se meteu? Ninguém atende em sua casa, estou preocupada! Quero saber o que aconteceu... do seu plano.
xx Emily"
Suspirei fundo. Queria responder-lhe que o louco varrido do Ster era quem havia me feito tanta desgraça ao mesmo tempo, destruindo meu plano e arruinando a minha noite.
"Plan Failed. Trabalho demais, e ainda estou levando coisa pra casa. Emily me salve.
xxx Demi"
Mensagem enviada. A próxima estação já era a que eu desceria, então joguei minhas coisas na mochila e escondi os fones de ouvido por debaixo da roupa. Senti o telefone vibrar mais umas duas vezes no caminho andando até meu apartamento, mas preferi ignorar, apenas desejava dormir, descansar.
Os dias seguintes na revista foram piores do que aquela segunda-feira. Eu não conseguia coragem para pedir socorro na sala de Joe ou reclamar com Ster por estar jogando tudo em mim, descontando de algo que eu não havia feito. Aliás, o que mesmo levou-o a tomar tais atitudes ainda se formara com mistério, e não foi apenas pela falta de tempo que eu não cheguei a dar uma de Sherlok Holmes, mas porque quando a minha mente de repente se tornava desocupada, não era em Ster que eu estava pensando.
Na quarta-feira, como combinado, resolvi o problema com Tiff. Não - eu não briguei com ela. Apenas tive que ajustar seu logo e ajudá-la a fazer uma seleção de imagens para compor sua matéria. Aliás, por acaso, Tiff andou sendo promovida. Se antes ela tinha uma folha e meia para sua matéria, agora ela tinha três completas; exatamente o dobro do anterior. O engraçado é que foi Ster quem a promoveu, o que é meio suspeito já que eles são namoradinhos. Quanto a mim, acabei por ganhar um peso a mais no departamento, já que por decisão dos chefes, alguns web designers e editores da minha seção foram demitidos, visto o nosso problema financeiro pós-fracasso-de-festa. Andei pensando diversas vezes em idéias para reassumir a posição gloriosa da Music London, mas de nada adiantou. Talvez isso fosse problema decorrente da minha ocupação tremenda em outros trabalhos de prioridade maior, trabalhos esses vindos sempre das mãos de null.
- Preciso do conteúdo desses envelopes impressos até o horário do almoço. - Disse Ster naquele dia de sexta-feira. Estava decidida a, desta vez, comentar com ele sobre meu 'overbook' de trabalho árduo, cansativo, e que estava ocupando todo o meu tempo, livre ou não. Então coloquei os envelopes sobre a escrivaninha, e virei a cadeira giratória para que pudesse falar com ele diretamente. Estava vestido tão impecavelmente que cheguei a perder um pouco meu fôlego quando o encarei; uma calça social e smoking negros, a camisa era de cetim ou seda - eu não sabia diferenciar devido à distância - e estava colocada para dentro da calça apenas pela metade, enfeitada com uma gravata vermelho-sangue - esta com certeza de seda - que brilhava como se fosse veludo. Seus cabelos estavam penteados para trás, molhados como se tivesse acabado de tomar banho e penteado para trás.
- Senhor Knight - sim, agora ele me obrigava a chamá-lo de senhor, dizendo que eu era sua empregada e não sua melhor amiga. Não que eu fosse ligar pra isso, algo muito maior me dizia que aquilo era apenas algo como uma máscara, e que aquele tratamento rudimentar e ignorante fazia parte do teatro em que Ster se submetia. O motivo, este sim, completamente desconhecido.
- Sim, Lovato? - Perguntou arqueando uma sobrancelha de forma desafiadora, e seriamente sexy. Tentei inspirar o máximo de ar possível para proferir as palavras corretas, mas algo estranho aconteceu. Eu não reclamei com ele. Não consegui.
- Por que você mudou tão repentinamente comigo? O que eu fiz pra merecer isso? - Perguntei instintivamente. Ster me observou com suas sobrancelhas agora quase juntando-se no meio da testa, numa expressão de confusão, talvez.
- Você trabalha pra mim. Trabalho para trabalhadores. Se não consegue dar conta... - Não admiti que ele fosse manter aquela postura ridícula.
- Eu não estou reclamando, Ster. Estou perguntando o porquê dessa mudança repentina! Essa semana você me encheu o saco exatamente como o Joe faria. Trocaram os papéis, então?
A pele de marfim do meu chefe ficou mais branca ainda, pálida
- E eu vi você com sua namorada na festa. O que eu ainda não vi é o real problema com isso. - E finalmente, a discussão estava aberta. Os funcionários que estava perto da minha sala logo estavam jogados no vidro que separava a minha sala do resto da redação, e eu pude observar isso pelas pequenas frestas entre as persianas acinzentadas. Meu tom de voz já começava a se alterar, assim como o dele.
- Qual é, Demi, como é que você fica com um total estranho? Aposto como você sequer sabe o nome dele. - Ster disse de uma vez, indignado. Aquela era a primeira vez que ele falava comigo, se direcionado a mim, e não à designer da revista. Mas eu tinha rancor, e mesmo com a sua figura divina em minha frente, fui capaz de rebater.
- Se eu fosse você não me importaria com a vida pessoal da designer da revista.
- Eu sou seu amigo também.
- Há uma semana você não me trata como amiga. - elevei suavemente meu tom de voz, mas que, devido à voz aguda - presente da minha feminilidade - acabou por parecer que eu aumentei muito mais do que um oitavo na minha freqüência. O silêncio estava nos separando de chegar a um acordo com palavras, então nossos olhos trocaram palavras, gestos, sentimentos; tudo aquilo que apenas os olhos são capazes de informar. Eu estava com raiva, e ele me parecia levemente arrependido. Foi apenas impressão. Seus olhos tomaram aquela pose de chefe, subindo ao pedestal, enquanto eu permanecia como uma simples empregada. Eu odeio relações de negócios. Odeio.
- Tenho muito trabalho a fazer. - Desculpei-me e levantei da cadeira, passando por seu lado e abrindo a porta da saída. - Melhor você ir embora. - pedi.
Nunca pensei que ia pedir a um Deus Grego que se afastasse de mim, mas eu tinha entendido o recado. Ele sentiu ciúmes. O problema é que ele tem namorada, e eu não tinha nada com ele que se aplicasse a uma relação conjugal ou amorosa. Eu não devia nada a ele. E por mais que gostasse dele, não iria admitir ser pisada daquela maneira e muito menos iria admitir que ele viesse a me dizer que estava com ciúmes e me manipulasse como sua amante. Eu tinha Joe. Eu queria Joe. Eu estava feliz por tê-lo.
Ster me olhou realmente assustado com minha reação. Não deixei transparecer mais nada em minhas feições, apenas queria que ele saísse dali. Eu me recusava a enlouquecer por causa dele. Virou-se em silêncio, dando as costas para mim.
- O conteúdo dos envelopes, meio-dia. - Repetiu e andou em seus passos arrastados de volta á sua sala, fazendo o pequeno motim ao redor da minha sala rapidamente voltasse aos seus postos. Senti olhares sobre mim, mas não tinha paciência sequer para me importar com aquilo. Sentei em minha cadeira e abri os envelopes que me foram dados com a perfeita intenção de exterminá-los o mais cedo possível e hoje era o dia do meu plano dar certo.
Abri a porta com certa cautela. Era o escritório da diretoria, o lugar onde eu encontraria Joe e Ster. Ainda era 11:30 e eu já havia terminado o que me fora pedido. Com um pen-drive em mãos que ainda teimavam em tremer, adentrei a sala, ainda dando leves batidas na porta - como um pedido de licença para entrar.
- Entre. - Ouvi a voz de Ster dizer, e então eu entrei de vez, encostando a porta. Virei-me para onde eles estavam. Naquela espaçosa sala,Ster estava completamente estendido em sua poltrona macia, enquanto Joe conversava com ele sentado em cima da mesa de vidro e mármore, despreocupado - ou pelo menos estava despreocupado - até seus olhos cruzarem com os meus.
As feições antes calmas prenderam-se, esconderam-se, e logo aquela face linda me veio repelir. Que viesse. Também não vim amistosa, estava séria e concentrada nos meus próximos passos, nas minhas próximas falas. Ajeitei roupa do dia, com certeza a menos provocante de toda a semana, e fui andando em direção à mesa. Coloquei o pen-drive vermelho no meio da mesa com uma frieza que eu não sabia de onde tinha tirado, mas que estava me ajudando bastante.
- Aqui está o que o Senhor Knight me pediu. Mais alguma coisa? - perguntei ríspida. Deixei que meus pés pendessem para trás, dando alguns passos retardados, e assim meus olhos puderam alcançar os dois rostos que me encaravam sérios. Na verdade, eu podia perceber na feição de Joe algo mais. Algo que eu não sabia definir, mas que podia entreter minha atenção por bastante tempo.
Joe parecia pensar enquanto analisava o meu rosto; obviamente me deixando um pouco envergonhada e eu tive de lutar contra mim mesma para abstrair. De certa forma, com aqueles dois pares de olhos me encarando tão minuciosamente, fazia minha pele arder, queimar - e não era apenas nas bochechas -, vindo pelo lado de Joe, minha vontade era de tocá-lo, e começar algo que poderia não terminar tão cedo...
E quanto a Ster, minha raiva dele talvez já era o bastante, o bastante para que meu corpo pedisse para repudiá-lo. Ele merecia.
- Não, Demi, acho que...
- Fale com Leah, ela pediu ajuda para a edição de uma história de ficção sobre os Strokes. Ajude-a. - Interrompeu Ster numa superioridade invencível.
- Mas, Ster... - Joe tentou falar novamente - a Demi é...
- Ela está livre, Joe. Ela está livre e nós estamos precisando de assistentes. Ela tem competência para isso. Ou ao menos era isso que dizia seu currículo, certo, Lovato?
- Sim - concordei monossilábica. - Só isso?
- E finalize o layout para a impressão amanhã. - Disse Joe com um sorriso tarado nos lábios. Encarei-o com os olhos semi-cerrados; Ele estava brincando comigo, né? Arranquei toda a calma que tinha nos meus pulmões, talvez a calma da minha próxima encarnação também, e consegui suspirar fundo antes de responder. - Sim, chefe. - Disse, e virei as costas para eles - Com sua licença.
Não esperei respostas, mesmo tendo plena consciência de que estava fingindo em cada mínima ação, aquele ambiente estava me deixando louca. E até mesmo parte da minha dissimulação teimavaem esvair-se. Saí do escritório dos chefes ouvindo-os me chamarem de volta; ignorei completamente. Em passos rápidos fui ao meu escritório e peguei minha bolsa, já estava quase na hora do almoço mesmo. Não encontrei Emily no caminho, e estava sem paciência demais para tentar encontrá-la. Deixei todos a me observarem sumir pela porta transparente que dava entrada à revista, enquanto os retardados ainda gritavam:
- Lovato! Demi! Volte aqui! - a voz de Ster ecoava.
- É, isso aí, volte aqui... - E Joe ajudava. Estava me provocando.
- Entre. - Ouvi a voz de Ster dizer, e então eu entrei de vez, encostando a porta. Virei-me para onde eles estavam. Naquela espaçosa sala,Ster estava completamente estendido em sua poltrona macia, enquanto Joe conversava com ele sentado em cima da mesa de vidro e mármore, despreocupado - ou pelo menos estava despreocupado - até seus olhos cruzarem com os meus.
As feições antes calmas prenderam-se, esconderam-se, e logo aquela face linda me veio repelir. Que viesse. Também não vim amistosa, estava séria e concentrada nos meus próximos passos, nas minhas próximas falas. Ajeitei roupa do dia, com certeza a menos provocante de toda a semana, e fui andando em direção à mesa. Coloquei o pen-drive vermelho no meio da mesa com uma frieza que eu não sabia de onde tinha tirado, mas que estava me ajudando bastante.
- Aqui está o que o Senhor Knight me pediu. Mais alguma coisa? - perguntei ríspida. Deixei que meus pés pendessem para trás, dando alguns passos retardados, e assim meus olhos puderam alcançar os dois rostos que me encaravam sérios. Na verdade, eu podia perceber na feição de Joe algo mais. Algo que eu não sabia definir, mas que podia entreter minha atenção por bastante tempo.
Joe parecia pensar enquanto analisava o meu rosto; obviamente me deixando um pouco envergonhada e eu tive de lutar contra mim mesma para abstrair. De certa forma, com aqueles dois pares de olhos me encarando tão minuciosamente, fazia minha pele arder, queimar - e não era apenas nas bochechas -, vindo pelo lado de Joe, minha vontade era de tocá-lo, e começar algo que poderia não terminar tão cedo...
E quanto a Ster, minha raiva dele talvez já era o bastante, o bastante para que meu corpo pedisse para repudiá-lo. Ele merecia.
- Não, Demi, acho que...
- Fale com Leah, ela pediu ajuda para a edição de uma história de ficção sobre os Strokes. Ajude-a. - Interrompeu Ster numa superioridade invencível.
- Mas, Ster... - Joe tentou falar novamente - a Demi é...
- Ela está livre, Joe. Ela está livre e nós estamos precisando de assistentes. Ela tem competência para isso. Ou ao menos era isso que dizia seu currículo, certo, Lovato?
- Sim - concordei monossilábica. - Só isso?
- E finalize o layout para a impressão amanhã. - Disse Joe com um sorriso tarado nos lábios. Encarei-o com os olhos semi-cerrados; Ele estava brincando comigo, né? Arranquei toda a calma que tinha nos meus pulmões, talvez a calma da minha próxima encarnação também, e consegui suspirar fundo antes de responder. - Sim, chefe. - Disse, e virei as costas para eles - Com sua licença.
Não esperei respostas, mesmo tendo plena consciência de que estava fingindo em cada mínima ação, aquele ambiente estava me deixando louca. E até mesmo parte da minha dissimulação teimava
- Lovato! Demi! Volte aqui! - a voz de Ster ecoava.
- É, isso aí, volte aqui... - E Joe ajudava. Estava me provocando.
Por favor posta logo, ta mt bom mesmo! *_*
ResponderExcluirPosta logo, por favor, ta muuuito bom, sério mesmo!
ResponderExcluirPosta logo minha flor *-*
ResponderExcluir